quarta-feira, 3 de junho de 2015

O Acordo Implícito entre os "Elitistas" e o Militarismo

Em artigo anterior (ver aqui), procurei demonstrar que não existe uma "maldade" intrínseca no que chamamos de "ELITES", e sim no ELITISMO – este, com certeza, humanamente deplorável, explorador e excludente.

Os elitistas amam sua pretensa posição de superioridade, como que se vivessem em pedestais (reais ou imaginários), acima do bem e do mal, tal qual uma casta merecedora de todos os privilégios.

Só se sentem bem com seus pares de mesma ou superior posição (seja por dinheiro, poder ou fama). adicionalmente, desprezam os seres abaixo de sua posição. Seu olhar é de cima, de soslaio, de horror muitas vezes. Pobres e miseráveis não lhes trazem compaixão, mas somente o reforço de sua crença de superioridade e de predestinação.
Quando estes inferiorizados lhes enfrentam, de igual para igual, suscitam o ódio e desejo de vingança – tal qual deuses blasfemados.
É um tal de "você sabe com quem está falando", processos e – infelizmente – uso de uma partidária força policial como braço forte e ferramenta de usos próprios.

Todos conhecemos a história da polícia militar, legado do golpe de 64 onde uma ditadura truculenta se instalou e se mostrou repressora violenta das manifestações de classes populares que ousaram levantar sua voz na luta por direitos, por uma vida melhor em um país intensamente injusto e excludente. A estes, só foi dado o direito de servir os elitistas.

Conhecemos também, através de fatos vistos e vividos por estas terras, a história do doutor-infrator (ou mesmo criminoso) que de vez em quando mostra sua cara, sendo sempre muitíssimo bem tratado por esta forças policiais que deveriam primar pela isonomia e justiça.

Estas fotos mostradas nos dois quadros abaixo mostram um instantâneo desta realidade, e nenhum brasileiro em sã consciência dirá que não existe esta diferença de ação.
A primeira imagem do primeiro quadro 1 vê-se um policial espirrando spray de pimenta em uma criança negra, em um protesto de desabrigados da chuva em Niterói. O que dizer diante de tal imagem?

Quadro 1. Repressão policial em protestos por melhores condições de vida e mais justiça.
Quadro 2. Protestos pela quebra do estado democrático e pela volta do militarismo.
Eu pergunto:

Alguém poderia imaginar o primeiro quadro nas pessoas do segundo, e o segundo quadro nas pessoas do primeiro?

Tal imaginação causa desconforto, estranheza e senso de irrealidade, não é mesmo?

Porque é assim? O que aconteceu em nossa história para que este estado de injustiça se instalasse?

Uma pista é que os elitistas (e não exatamente, como propus, as elites) vem há séculos comandando o país. Eles sabem de seu poder e buscam sempre aumentá-lo através das facilidades própria dos poderosos, como a compra corruptiva de pessoas, os lobbies, a política endinheirada e o apoio da imprensa que comandam desde que a ditadura os promoveu.

Deste modo, a ditadura e a ascensão elitizante dos "escolhidos" foi uma união sórdida, um momento histórico infeliz em que um pacto foi feito entre militares e elitistas.
Sem dúvidas, um pouco de história mostrará a qualquer um como foram construídas as oligarquias atuais que mandam e desmandam em nosso país, que não desejam perder seus privilégios, que se insatisfaz com a diminuição da mão de obra servil e miserável, antes abundante e que destacava, ainda mais, sua posição de superioridade e mando perante a sociedade.

Pode-se dizer que vivemos, ainda hoje, a inércia deste acordo entre militares e os elitistas, implícito em nossa sociedade mas nunca assumido, sempre percebido de modo velado, mas continuando a mudar os rumos da nação.

E não precisa muito para este lado se mostrar nas pessoas: basta ascender um pouco dentro da sociedade e se enquadrar no protótipo dos que estão mais do lado dos "eleitos" – isto é, a família branca, cristã, bem tratada, bem vestida, abastada e intransigente – para, automaticamente, fazer parte do quadro dos protegidos pelas forças estatais de segurança – e se duvidar, pelo próprio povo .

Resta esperar que o tempo mude esta condição que fere todo senso de justiça e envergonha quem tem humanidade; por enquanto, não cooperaremos com tal fato, e não nos deixemos acostumar. Devemos confiar no futuro e nos jovens, pois estes moram na casa da amanhã e, aos poucos, se distanciam do passado.

É hora de deixar as heranças escravagistas, dos coronéis e do militarismo para trás. É hora de abandonar os preconceitos e o comando dos elitistas.

Só assim o Brasil dará um salto em termos de qualidade social, para mais perto de uma sociedade minimamente justa onde não se veja cenas em que autoridades travestidas de crueldade ataquem os que mais sofrem, sob o comando de pessoas e entidades elitistas que se sentem acima do bem e do mal.

EdiVal
03/06/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários são muito importantes! Obrigado!