terça-feira, 14 de julho de 2015

Repúdio Total aos Linchamentos

Nos últimos tempos, uma onda de linchamentos estampa as manchetes dos jornais brasileiros, como se fosse uma "modinha" banal destes novos tempos. Além disso, outros países como a Argentina já vem sofrendo com esta triste e ameaçadora realidade.

E para que estes fatos ocorram parece não existir a necessidade de certeza: a maioria dos agressores tem sua convicção de culpa e necessidade de punir geradas a partir dos relatos enlouquecidos dos que já estavam lá. É uma multidão enraivecida e que vai aumentando devido à curiosidade, excitada com a saída da rotina, repetindo e amplificando os boatos sem saber de onde se originaram, e muito menos da veracidade dos mesmos.

Nas discussões sobre estes acontecimentos, imputa-se tamanha fúria popular à sensação generalizada de impunidade somado ao aumento da violência. É possível, mas pode-se enxergar nestes atos, claramente, a momentânea exteriorização dos demônios de cada um!


A visão é mesmo algo infernal: nos vídeos que circulavam pela Internet, vê-se inacreditáveis, incontroláveis e incontidos murros e chutes, pedras, paus e até capacetes descendo violentamente sobre o corpo, que vai se avermelhando e deformando, desvanecendo e ressuscitando, desferidos por mãos, pés e instrumentos que surgem e desaparecem nas imagens como se não tivessem donos, em uma impessoalidade assombrosa, até a perda completa da consciência ou, em muitos casos, da vida do agredido.

E assim, a cada novo membro "indignado" que se soma à multidão, expressando um ódio que não se espera de pessoas comuns, um demônio de violência vai crescendo em um auto-alimentado acontecimento. É um novo perigo que se soma aos existentes, onde todos nós, nossos filhos, nossos pais e amigos, correm o risco de – num evento inimaginável como no caso relatado a seguir – ser vítima inocente deste tipo de atrocidade.

5 de maio de 2014: nesta data esta nova e obscura realidade desceu de maneira contundente sobre nós brasileiros, explícito nas manchetes dos jornais na forma da morte de uma mulher espancada por moradores do município de Guarujá, acusada do sequestro de crianças para práticas de magia negra (ressuscita-se, assim, a caça às bruxas!). 
A prova de sua culpa? Uma foto publicada em um site de uma "suspeita" que se assemelhava a ela.
Somente isso! Como se uma desculpa para o início da barbárie fosse o único fator necessário, e tudo está justificado desde que se inicie o ato: um verdadeiro festim diabólico!

A mulher era uma dona de casa de apenas 33 anos, se chamava Fabiane Maria de Jesus, e tinha duas filhas pequenas.  E era inocente.

Inocente!

Diante de tamanha atrocidade, a sociedade precisa urgentemente se conscientizar de que, mesmo para os "culpados", o sistema legal de justiça – que é falho mas fundamental para o mundo como conhecemos funcionar minimamente – deve sempre prevalecer.
A justiça não pode implicar em infligir sofrimento e morte, senão é barbárie.
A vingança não é um direito, é um desequilíbrio emocional.

Quanto aos participantes dos atos como o relatado acima, não sejamos condescendentes nem superficiais: o fato é que as mãos dos executores dos linchamentos – e até mesmo dos incentivadores – ficam indelevelmente e inexoravelmente manchadas de sangue, e isto é válido mesmo que o acusado seja culpado do crime de que é acusado. Este fato já tem um peso sobre a vida, a história pessoal e tudo que possa ser considerado sagrado e bonito na vida de cada uma destas pessoas que se reuniram para cometer este ato de inconsequente violência.

E o sangue nas mãos destas pessoas no caso acima exposto não é de qualquer um: é a de um inocente, de uma mãe de família. Dores eternas foram infingidas às pessoas próximas à Fabiane, pessoas em que foram abertas feridas que nunca serão curadas. Um marido sem sua mulher, duas filhas sem sua mãe, parentes e amigos sem Fabiane e todos remoendo a dor da injustiça e de imaginar o terrível sofrimento e terror que o ente amado passou ao ser desintegrado física e psicologicamente por uma coletividade fora de si. 

Não há como amenizar o ato e aplacar a consciência. Ao agir pelos impulsos, ao seguir a multidão, ao responder aos comandos de ódio, ao materializar atos de violência extrema, riscos e responsabilidades foram assumidos: todos se tornaram criminosos, todos se tornaram assassinos. 
Em um ato desta natureza não existem amenizantes: todos se tornam sempre piores do que aquele que acusam. 

E o que fazer? Linchá-los também? Não abramos esta CAIXA DE PANDORA!

Um basta tem de acontecer! Ao ser humano não é dado o direito de matar ou mesmo ferir seu semelhante, seja em que circunstâncias forem, exceptuando-se um ato de defesa. 
Quem nos dá o direito de julgar e condenar à danos físicos, sofrimento e morte quem quer que seja, tenha culpa do que é acusado ou não? Um amontoado de pessoas enfurecidas e alimentadas por cada vez mais desvinculados da verdade boatos, gerados pelos murmurinho dos ensandecidos?  

Não é possível imaginar como uma pessoa, num dia que até aquele momento era apenas mais um na vida corrida,  possa querer participar de algo com tamanho peso. É uma monstruosidade e a banalização da selvageria, a degradação da humanidade e um passo atrás no custoso processo civilizatório dos povos, construído com muito custo ao longo de milênios.

Significará sempre o fim da humanidade e o recomeço da barbárie.

Devemos todos nos envergonhar de tais fatos, e como cidadães da terra e membros da espécie humana, mostrar nossa preocupação e indignação.

A observação diária nos dá indicações de que a maior parte das pessoas que compõem nossa e qualquer sociedade da terra são fundamentalmente pacíficas e não concordam com tais atos, sentindo – mesmo que não consigam colocar em palavras – como se algo estivesse muito errado!
Essas pessoas devem levantar sua voz, pressionando para que as autoridades tomem providências. A escalada de violência – ainda mais vinda de pessoas comuns – tem de ser interrompida!
Temos de nos encontrar novamente como seres humanos.

Que um alto e claro "REPÚDIO TOTAL AOS LINCHAMENTOS" seja dado pela sociedade brasileira e de qualquer país que esteja passando por tais aterrorizantes fatos.

É isto, ou construiremos um mundo de terror que não vale a pena viver. 

 EdiVal
05/05/2014 

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domingo, 5 de julho de 2015

Dias de Um Futuro Esquecido – Versão Brasileira.

O Início de Tudo

Esta é uma carta-relato aberta ao povo brasileiro, e tem por objetivo tornar público um episódio inacreditável e revelador que aconteceu com este que vos fala. É também, por seu teor, um aviso, uma tentativa de mudar o que está por vir no mundo e especialmente em nosso amado País. Pode ser encarada como um vislumbre de um futuro possível, se assim o leitor desejar.

De antemão, já sei que será difícil acreditarem em minhas palavras, mas não posso fugir ao dever. Este futuro, na realidade, já começou, e está nos noticiários, nas ruas e na pele e mente de muitos brasileiros.

Eu começo trazendo uma questão: Como você, leitor deste texto, agiria se vivesse na Alemanha pré-nazista e, por um meio impensável (mas confiável), soubesse do futuro trágico que seria trazido por Adolf Hitler? Quais atitudes tomaria? Esqueceria tudo para continuar levando sua vida tranquila enquanto pode? Ou, de posse de uma informação de tal magnitude, tentaria mudar o futuro terrível que espera seu povo, sua Nação?

Nas linhas que seguem o leitor irá entender o porquê deste questionamento, não se preocupe. Aqui, nesta carta-relato, contarei a história de um evento inacreditável que, por ter o potencial de mudar o futuro, está transformando toda minha vida. O que ele me trouxe é meu sonho e meu pesadelo, minha vida e minha morte, é meu personagem principal na pré-tragédia desta Nação.

Deixe eu me apresentar brevemente: já fiz muito humor e hoje sou um apresentador de um programa de entrevistas em uma emissora de abrangência nacional. Fiz e faço muito sucesso, e há décadas sou uma celebridade nacional, mas sei que isso não me salvará...

Minha vida era muito boa mas, numa bela noite, recebi uma mensagem...

Sei que não irão acreditar em mim, e que, inexoravelmente, minha reputação será arruinada, minha credibilidade jogada ao chão, minha carreira destruída. Meu relato vai cheirar a fantasias de ficção científica, delírios de uma mente perturbada, mentiras de alguém que deseja desesperadamente chamar a atenção.  Mas quando algo é maior do que nós, sabemos que não temos opção.
Relutamos, negamos, sentimos raiva e nos perguntamos: "porque eu?".
Mas aqui estou, pronto para ser imolado, preparado para o sacrifício, conformado com meu destino.

Dos Atos

Já fiz algumas coisas dentro desta nova dinâmica pessoal, dando a partida da minha missão: emiti opiniões coerentes com minha nova visão, entrevistei personae non gratae e deixei muitas pessoas perplexas; mobilizei muito ódio e já estou colhendo alguns espinhos. Mas eu sabia que seria assim (aliás, achei que seria pior). Só não revelarei, ainda, meu nome. Deixo para fazê-lo em um outro momento do futuro, esperando que o medo não prevaleça ao dever e que eu não recue. Aqui, serei o Sr. Brás (como que me colocando como cidadão no modo coletivo deste belo País com que preciso falar).
Nesta carta despejarei tudo que me foi transmitido, sem titubeios, preservando somente mais um pouco minha identidade. Já sei o que devo fazer e de sua importância, e isso é o que me dá forças.
Mas não foi uma decisão fácil. Após o evento fatídico, ocorrido no ano passado, foi necessário todo um processo em cinco atos para que eu chegasse até o momento das revelações:
  • Primeiro Ato: ESTUPEFAÇÃO. Confesso que até me senti como um ser privilegiado, "o escolhido", e fui tomado pela excitação da revelação e de um sentido maior para minha existência. Me senti importante e eufórico! Mesmo assim, o medo começou a me tomar;
  • Segundo Ato: DEPRESSÃO. Me senti como um prisioneiro no corredor da morte. A noite negra da alma se instalou, e uma vergonha antecipada pela futura destruição da minha imagem tomou conta de meu ser. Fiquei doente, fui internado. Passei por um período de luto pela morte próxima da vida que vivi e que é como me reconheço. O medo aumentou e envolveu meu ser;
  • Terceiro Ato: REVOLTA. Sim, senti muita raiva, e numa destas noites bradei em desespero aos céus: "Pai, afasta de mim este cálice", consciente do sofrimento que me esperava se seguisse adiante com minha missão. A raiva se misturava com o medo e senti vontade de esquecer tal episódio, seguindo a vida que conheço e que não tinha motivos para mudar;
  • Quarto Ato: RESIGNAÇÃO. Comecei a me conformar com meu destino. Nesta etapa, lembrei-me dos maiores sacrifícios de grandes personagens da história da humanidade, suas lutas e seu legado – de Jesus a Betinho; assisti filmes cujo tema traziam o monomito, a jornada do herói – de Avatar a Matrix. Mas sei que nem me comparo com estes seres e sacrifícios citados. Minha perda não deverá implicar em riscos à vida ou sofrimentos físicos (apesar de já haver ameaças de morte). Passada a turbulência, minha vida terá todo conforto que o dinheiro e a modernidade proporciona, de qualquer forma. No máximo, serei condenado ao ostracismo.
  • Quinto Ato: DECISÃO. Finalmente decidi. Vou fazer o que deve ser feito, não fugirei ao destino que fui chamado. Não havia dúvidas. Eu era pura certeza e medo.
Quando a gente se vê diante de algo maior que nós mesmos, a mudança é inevitável. Reciclei opiniões pessoais, paradigmas e crenças, fiquei mais tolerante e humano. Percebi que o que apoiamos em vida altera o mundo e ressoa na eternidade. As mudanças de meu ser, expressos em meu discurso e programa, foram notadas. O que  jamais imaginariam é a causa de tal comportamento!
Agora percebo, no fundo de minha alma  temerosa, que a tolerância, o amor, a paz e a Justiça são as únicas qualidades que podem salvar este mundo e nosso país (para o qual parece ter sido reservado a pior das realidades).

Bom, chega destes maçantes preâmbulos introdutórios e vamos direto ao momento central daquilo que gosto de chamar, dramaticamente, de o "big bang" da minha vida:

Dos Fatos

Em um momento qualquer dos primeiros meses do ano passado, algo inesperado aconteceu...
Era noite. Estava em minha casa me preparando para me recolher após meu programa televisivo, cansado e com a capacidade de atenção muito baixa. Como é próprio da minha rotina, fazia um "pequeno lanchinho" antes de dormir (gordisses de todo dia...). Liguei a TV, e estava passando um filme leve, tipo "sessão da tarde". Sentei pra relaxar um pouco antes de deitar de vez e comecei a assisti-lo.
Lá fora, o tempo mudava e pela janela eu podia ver clarões de relâmpagos ao longe. Já meio sonolento, vi surgir pequenas distorções na tela da TV, que pensei ser divido ao mal tempo que se aproximava. Um leve chuviscar na forma de uma estática fina também dava as caras, além de um som que se aproxima do mantra "OM" tirado de um didgeridoo (instrumento de sopro dos aborígenes australiano) e conduzido em uma frequência muito grave e bela – primeiro em oscilações intermitentes, depois em uma constância rítmica perfeita de aproximadamente 1 segundo cada ciclo.
As distorções na projeção da tela foram formando linhas coloridas que espiralavam e ficavam mais escuras em direção ao centro.  À medida que as espirais se estabilizaram e desaceleravam seu lento e preciso giro, na parte central se formou uma região negra pelo escurecimento das linhas, e no centro desta região, um ponto muito brilhante que emanava uma luz muito clara e levemente azulada. O quadro era muito belo e misterioso.
Mas a maior surpresa estava por vir: ao estabilizar o ponto luminoso, foi que uma voz surgiu:

— o..ol...olá.. Olá!

A intensidade luminosa do ponto luminoso parecia seguir as oscilações do som emanado, como se dele saíssem as vibrações sonoras. Era uma voz algo metálica e masculina, mas bem clara e inteligível. Pensei: "será que está sintonizando uma frequência pirata?" Será um Rádio Amador ("Será que ainda existem radioamadores?" Duvidei)?" Mas o momento do primeiro grande assombro chegou:

—  Olá Senhor Brás!

Pulei da poltrona, assustado. O que seria? "Só pode ser piada", pensei. Mas nenhum dos meus amigos e parentes teria liberdade para uma brincadeira deste porte. Seria uma pegadinha? Peripécias de um fã arteiro?

—  Não se assuste Sr. Brás, Nós estamos utilizando este aparelho para nos comunicarmos com sua pessoa de um lugar muito, muito distante. Preciso lhe passar uma mensagem, um aviso. Nosso objetivo é trazer uma chance para o futuro do Brasil. Sim Sr. Brás, o futuro está em perigo, pelo menos um futuro que valha a pena para a maior parte da população...

—  Q..quem está falando? Que brincadeira é esta? — Respondi, bastante preocupado. O assombro faz com que minha mente viajasse por ideias que normalmente não passariam pela minha cabeça. Os pensamentos ferviam.

—  Eu sou de 2088. Falo do Brasil do futuro. Trabalho em um grande laboratório de física, e chegamos em um ponto do desenvolvimento tecnológico em que conseguimos fazer uma ponte com o passado. Não é possível enviar ou trazer matéria, somente ondas eletromagnéticas. No momento, só nosso grupo detêm a tecnologia total para tal procedimento, e por isso pudemos "sequestrar" seu aparelho de TV e estabelecer a comunicação. Contudo, o tempo que podemos ficar é limitado, pois o processo é altamente dispendioso em termos de energia e, além disso, estamos realizando uma ação irregular, pois nunca seria permitido fazer o que pretendemos. Logo depois desta comunicação, vamos destruir todos os dados e equipamentos e fugir, se conseguirmos.

—  Como me acharam? Porque seria eu "o escolhido"? — Questionei.

—  Acessando o sistema OWN, que é uma espécie de Google universal de nossa época, totalmente onipresente e invisível. Estamos todos conectados em nosso tempo, pessoas e coisas. OWN é também uma inteligência artificial. Mas certas coisas não mudam: existe uma gigantesca Deep Web e temos nossos hackers. Seus dados, e de todos desde que a Internet foi criada estão integralmente acessíveis. Nós somos um grupo secreto e lutamos de forma pacífica por um Brasil melhor. Não fomos exatamente nós que escolhemos você, pois seu perfil psicológico, junto com o de milhões, foi analisado em um ultracomputador quântico e você mostrou ser o indivíduo mais promissor dentro do que foi visto. Esta escolha não foge à uma lógica primária que qualquer um pode compreender, por várias razões: você tem acesso à imprensa e projeção nacional, se alinha com a oposição do momento e por isso terá mais impacto na missão que te daremos e, principalmente, parece ser bem intencionado, indicado pela análise de seu perfil psicológico. Não podemos enviar imagens, somente palavras faladas ou escritas, pois é pequeno o fluxo de dados que pode ser processado a cada instante. O tempo que temos é limitado, por isso não podemos conversar muito, e a única oportunidade é esta comunicação espaço-temporal específica, somente esta.

—  E o que seria tudo isso? — Perguntei, agora curioso com a pretensa brincadeira. Quanta criatividade!

—  Este ano, 2014, foi escolhido por ser o ano chave em que todo um processo de ódio e perseguição será iniciado – como que extraído dos subterrâneos da mente coletiva da Nação. Na verdade, será o ano em que o Estado Laico começará a ser atacado verdadeiramente, em que a elitocracia e a corporocracia começarão a mostrar suas garras e lançar seus tentáculos em todas as esferas sem nenhum pudor. Algumas figuras surgirão em breve, fazendo o papel similar ao de um Carlos Lacerda, "o Corvo" da época de Getúlio Vargas. O retrocesso que se verá será um processo ininterrupto que durará décadas, até chegar nesta realidade deprimente que nós, aqui, tentamos mudar.

—  Então, o que acontecerá a partir deste momento, e como saberei que é verdade?

—  Lhe daremos o máximo de detalhes possível dentro dos limites de tempo e estabilidade da conexão, e você terá as provas de que precisa para crer que esta mensagem, verdadeiramente, tem sua origem no futuro, ao ver tudo o que descreverei acontecer paulatinamente. Só lhe darei um detalhe específico para que, já na próxima semana, dê mais credibilidade à esta mensagem e não deixe apagar nenhum detalhe em sua memória: grave os termos Malaysia Airlines e MH370, atentando para a madrugada de 8 de março de 2014, no horário local. Não tente mudar nada além do necessário, esta é a regra.

—  Ok, continue, estou ouvindo. — Na verdade, neste momento eu estava um pouco mais tranquilo e também mais aberto, cada vez mais curioso. No mínimo, aquilo tudo era uma brincadeira de alto nível, pensei, intelectualmente excitado.

O Futuro Que Nos Espera

—  Neste ano de 2014, os dois eventos de maior magnitude determinarão toda dinâmica futura de nosso País: primeiro, a Copa do Mundo mostrará como as forças conservadoras agem: sem escrúpulos, se valendo da política da TERRA ARRASADA, montando um quadro de tragédia em uma campanha vil que montará um cenário sombrio que nem mesmo a mais criativa mente poderá imaginar, carregado de rios de contraposições, vaticínios gigantescamente catastróficos e vergonhas indescritíveis que, depois, todos verão que nada se concretizará – a não ser um fracasso vergonhoso da seleção, sinto informar. Poderia ser um aviso aos brasileiros sobre estes entes sombrios que tentam tomar o poder, mas o povo estará, todo tempo, apático. Depois virá as ELEIÇÕES presidenciais, onde os dois lados com chances de vitória protagonizarão uma polarização que amplificará ódios fascistas, especialmente porque seus adeptos perderão por muito pouco. Se verá ricos contra pobres, esquerda contra direita, PT versus PSDB, Sul contra Nordeste. Vozes preconceituosas se levantarão, ódios e saudades da tortura sairão às ruas, em uma reedição de 1964. A presidenta será atacada e xingada sem pudores e de maneira vergonhosa, e com o tempo o golpe virá, mas não exatamente como poderá imaginar. A corrupção atribuída ao outro e um absurdo discurso anti-comunista serão os mantras entoados ad infinitum e ad nauseam, e em cima disto a Democracia será violentada de todas as maneiras, de acordo com objetivos escusos.
Enquanto tudo isso se desenrola, o vácuo de poder será preenchido por "outros presidentes" e políticos comprometidos com seus financiadores de campanhas: as elitocracias e corporocracias financeiras e conservadoras; você verá, já iniciando em 2015, conquistas serem destruídas em golpes não combatidos; verá a infância ser roubada, os direitos terceirizados, as indústrias de armas conquistarem mercados através da política; verá depois, com o passar dos anos, o sistema de saúde e as as universidades públicas serem privatizadas e, com isso, todo brasileiro pagando fortunas para ter o mínimo em educação e saúde, se endividando de tal maneira a virarem uma espécie de escravos modernos. A concentração de renda, como é de se esperar, será intensificada a cada ano.
A polícia será, cada vez mais, truculento instrumento dos poderosos, e quando você ver acontecer um massacre de mestres em uma greve no estado do Paraná, saiba que será só uma amostra do que está por vir. Todo aquele que falar em liberdade e Justiça Social passará a ser perseguido e, até mesmo, linchado pelas ruas do País por intransigentes sectaristas cheios de razão e preconceito. Leis injustas, cada vez mais onipresentes e confusas, serão instrumentos de manutenção do poder auxiliados por um sistema judiciário mancomunado com o poder, em trocas de favores retroalimentados. O medo quebrará o espírito dos cidadãos, pois os fascistas  tomarão conta de todos os espaços. Anote: até o segundo semestre de 2015 você acreditará em mim.
No decorrer das décadas que seguirão, enquanto Estados Unidos, Rússia, China, Canadá e Países Escandinavos irão adotar um discurso e modo de governar mais pacífico e inclusivo, enquanto a Europa e a América do Sul regredirão neste sentido, indo em direção à extrema-direita. A questão religiosa também será destaque negativo, encabeçada pelos políticos evangélicos. Eles serão os mais inescrupulosos, hipócritas, elitocratas e autocomplacentes, liderando o pior por vir, atacando o estado laico sempre que possível. Mas saiba que tal modo de ação não ficará sem retorno, e o resultado a longo prazo será uma rejeição sem precedentes ao cristianismo, com duas correntes emergindo em seu lugar: o ateísmo e o islamismo. A experiência teocrática será breve e auto-implosiva.
No Brasil, a questão ecológica será deixada de lado em nome do lucro e da propriedade privada, cada vez mais concentrados. Muitos países farão sua parte, mas a a maioria não, incluso o nosso; isto trará graves consequências: a temperatura média do mundo aumentará 2,1° até 2080, e a sexta extinção em massa estará na sua fase mais intensa; além disto, a Amazônia agonizará devido às temperaturas maiores e ao desmatamento em nome do agronegócio, especialmente a pecuária. A faixa que abrange a região sudeste do Brasil, parte da região central e do sul virará praticamente um deserto, com a falta de chuvas chegando até a Argentina.A água utilizada terá de ser bombeada do mar e dessalinizada, apesar de transposições caríssimas. A guerra da água será uma realidade, especialmente no Sudeste e no Nordeste, e a decadência da agricultura trará uma escassez de alimentos sem precedentes. Como já acontece em sua época, será a agricultura familiar, só que mais urbana e como uma forma de resistência, que impedirá a catástrofe alimentar total.
O mundo acusará o Brasil, que se defenderá devolvendo mais acusações. Em 2077, haverá o chamado "verão da morte escaldante", com temperaturas atingindo até 54°C em determinadas regiões do planeta, e até hoje, 2088, muitas regiões ainda não se recuperaram. Com a derrocada da atividade agrícola e a altíssima concentração de renda, o Brasil morrerá aos poucos e, aparentemente, nada mais poderá ser feito. Para sobreviver, as pessoas comuns trabalharão por até 3 períodos, e todos os recursos  irão em moradia, alimentação, educação e um caríssimo e obrigatório plano universal de saúde. A taxa de natalidade cairá a praticamente zero, e o suicídio será a solução encontrada por muitos para sair desta vida infernal. A população está em declínio.
Eu poderia falar a noite toda fornecendo detalhes da situação que somos obrigados a vivenciar todos os dias de nossa vida miserável, mas o tempo está acabando, e precisamos encerrar a comunicação.
Enfim, esta é a realidade do mundo e de nosso país em 2088, e não resta mais esperanças em nossa época. Não sabemos o que pode mudar com a comunicação que foi feita, mas é um fio de esperança a que nos agarramos. Apenas isso.
Nosso mundo morre, e com ele nossos sonhos e esperanças. Leve esta mensagem a todos os brasileiros. Faça o que for preciso. — pediu em triste voz metálica.

Depois de uma respiração longa e profunda, meu compatriota do futuro ainda disse, em um misto de esperança e desespero:

— Salve o futuro de nosso País, Sr. Brás!

Apocalipse ou Ressurreição?

Neste momento, a comunicação entre épocas se desfez e o filme vazio voltou à se apresentar na telinha da TV, cujo tema, percebi então, também era de um futuro apocalíptico para o mundo, uma vida sem sonhos nem esperanças – bem clichê, mas altamente pertinente para o momento revelador que eu acabara de vivenciar.

Quanto a mim, não dormi aquela noite. Vi na semana seguinte o desaparecimento do voo da Malaysia Airlines, mas com o passar do tempo e o desenrolar dos acontecimentos não precisava mais desta prova, pois vi acontecer exatamente como foi descrito para aquele ano e para este que está em curso.
Não há como ter dúvidas da veracidade do que me aconteceu, e assim não há como fugir da responsabilidade que me foi imputada. Depois da mudança do meu discurso e da utilização de meu programa como canal de ação, faço destas linhas o terceiro ato nesta minha missão. Não sei do futuro, não sei como agir, mas não fugirei – como todo brasileiro – à luta que me foi entregue.
Contudo, neste momento, de uma coisa eu sei com toda certeza: somente o caminho da paz, da Justiça Social, da fraternidade e da tolerância valerá a pena e poderá mudar este mundo.
Quem diria que estava reservado algo tão transcendente para mim a esta altura de minha vida!

Para esta presente missiva, deixo apenas mais algumas palavras:
  • Brasileiros: Não se deixem contaminar pelo ódio e pela intolerância, e se lembrem sempre de que existe riqueza para todos neste Mundo, e mais ainda neste belo País;
  • Cristãos: Não misturem a vil política com a religião, e sigam sempre o preceito acima;
  • Seres humanos: Somos todos irmãos neste planeta, que é um só. Protejam-no a todo custo!
  • Irmãos da Terra e desta Nação: Mudemos o futuro que se desenha pois, caso contrário, pagaremos o preço de uma vida miserável e da inexorável extinção de nossa raça.

Que Deus nos ajude e Gaia nos perdoe!

"Sr. Brás"
05/07/2015