sábado, 9 de janeiro de 2016

Brasil Estranho Brasil

Um dia, Tim Maia disse que o Brasil é o "único País em que puta goza, cafetão sente ciúmes, traficante é viciado e pobre é de direita".

Temos de dar o braço a torcer perante a realidade que nos é mostrada e considerar que aqui, nas terras de Santa Cruz, valem, além das que Tim citou, inúmeras outras estranhezas, contradições e paradoxos – muitas repousando no passado e, outras, atualíssimas!

Algumas podem ser legais; outras, nem tanto...(algumas são, na verdade, terrificantes!).

Este é o país onde o governo militar, perseguidor e torturador de "comunistas", e a quem  acusavam de comer criancinhas, foi na verdade quem o fez, ao submeter alguns pequenos à torturas hediondas, sugando-lhes a inocência e a alma.
Repito para olhos que não querem ver: a ditadura torturou criancinhas!

Onde os acusados pelos ditadores de nutrir o desejo de implantar o Comunismo, ascendem ao poder anos após e seguem todos os ritos democráticos, aprofundando a Democracia e a liberdade; para completar, em 2016 quem ainda os acusa aplicam um golpe na Democracia derrubando um governo legitimamente eleito.

Onde professores – uma dos sustentáculos de qualquer nação – são tratados como bandidos (PR, 2015), ou se veem na condição de reféns de estudantes sem limites e seus pais indelimitadores; onde jovens estudantes que lutam por mais educação são reprimidos com violência pela polícia (SP, 2015).

Onde crianças perdidas, vítimas da falta de estrutura e amor, amargando o preconceito e a indiferença, são depositárias de ódio encarcerador e extermínio.

Onde a eliminação da pobreza e da fome gera expressões de puro ódio e preconceito;

Onde a justiça é unilateral e arma vil de políticos inescrupulosos;

Onde a política da terra arrasada chega na forma de ondas destruidoras e periódicas;

Onde "quem tem ética parece anormal" (Mário Covas), e onde "sucesso parece ser ofensa pessoal" (Tom Jobim);

País que foi "a melhor colônia de Portugal, depois que deixou de ser colônia" (Alexandre Herculano);

Onde a população mostra "altivez nas baixezas, amor-próprio nas bagatelas e obstinação em puerilidades" (José Bonifácio de Andrada e Silva);

País que é "a prova de que geografia não é destino" (Millôr Fernandes);

País-continente, eternamente pertencente ao futuro – tempo este que nunca é presente.

Brasil estranho Brasil: misto de paraíso e inferno, em que se vive a todo tempo um amor estranho amor.

Ame-o, mude-o! 




EdiVal
09/01/2016



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Como Me Convenci da Necessidade da Liberalização das Drogas

A um ano atrás a ideia de liberar / legalizar as drogas me soava absurda, apesar de minhas tendências liberais. Afinal, as drogas destroem vidas e famílias e nunca deveriam ter sido inventadas, não é mesmo?

Hoje (2015/16) vejo este procedimento como algo urgentemente necessário!

Em tempo: não, não sou a favor do uso destas substâncias; não, não sou hippie; não, não sou um extremista.

Na verdade, nunca provei ou fumei ou cheirei, e bebo algo entre o nada e o socialmente.

Mais ainda: pessoalmente não ganharia dinheiro com estas áreas – se isto fosse permitido; e ainda mais: nem mesmo trabalharia com açougues e lanchonetes/lancherias comuns pelo simples motivo de não querer este tipo de alimentação para mim e os meus.
Questão de coerência entre a teoria e a prática (teática)...

Então porquê alguém como eu – tendo esta visão e vida – teria se voltado a favor da liberação dos entorpecentes?

Foi por meio da confrontação de ideias, do estudo e da reflexão. Contribuiu muito para a necessidade desta busca o momento brasileiro em relação ao aumento da violência.

Vou citar alguns pontos do meu auto-convencimento:
  1. Liberdade. Sou a favor da liberdade pessoal e coletiva (com os limites que a filosofia trata). Acredito que, como os indivíduos, as sociedades não crescem se não experienciarem, cometerem sozinhas seus erros e forjarem elas mesmas suas mudanças. Sociedades e pessoas amadurecem quando caminham por suas próprias pernas;
  2. Fracasso da Repressão. A proibição das drogas e a penalização dos viciados (na maioria pobres), base da política atual contra as drogas, só aumentou o problema nas sociedades do mundo todo, e nos coloca ao lado da calamidade. Assim, existe a necessidade de mudar radicalmente o que se faz e como é feito;
  3. Questões Psicológicas. Os estudos psicológicos e a observação das sociedades e indivíduos mostram que a repressão traz a rebeldia e o desejo de quebrar as regras impostas, se estas vem de cima para baixo; além disso, é da natureza humana (principalmente dos adolescentes) o amor ao proibido;
  4. Pragmatismo. A guerra contra o que chamamos de "substâncias ilícitas" não só mostrou-se inócua como construiu o mundo das drogas como conhecemos: um verdadeiro império. Veja o exemplo da catastrófica "Lei Seca" dos Estados Unidos , criando monstros como os gangsteres e seu Al Capone. Assim, existem gangsteres/máfias para cada droga reprimida.
  5. Questões Econômicas. Tratar os viciados onera o sistema de saúde.  Fazer a legalização obviamente passa por cobrança de impostos (que deve ser alto, mas não o suficiente para (re)viabilizar economicamente o tráfico). Esta arrecadação deve, por coerência, ser repassada para o tratamento destes que se aventuram pelos caminhos tortuosos do vício. E mais: atualmente, a maior parte dos recursos destinados à luta contra as drogas vai para a ineficiente repressão. Com as drogas legalizadas, esta imensa quantia de recursos poderiam ser destinadas à prevenção e ao tratamento!
História da Lei Seca nos Estados Unidos.

Por estes pontos eu me convenci desta necessidade controversa. Obviamente, não imagino um mundo onde existam supermercados com "seção das drogas", e por isso regras rígidas deverão sempre existir em uma questão desta magnitude.

O que não se tem dúvidas é de que estamos perdendo esta guerra, e o mundo que pode ser criado não consigo nem quero imaginar.


EdiVal
08/01/2016