Como raça e sociedade, buscamos a garantia da sobrevivência e permanência neste mundo.
Como seres pensantes em eterno conflito – interno e externo –, buscamos respostas para o entendimento de nós mesmos e do nosso lugar no Universo.
Com o advento da agricultura (e a consequente garantia alimentar) e das organizações humanas complexas – regidas pelas mais diversas regras – pudemos direcionar grandes quantidades de calorias e tempo no cultivo do pensamento e na contemplação. Surgem daí ideias mais elaboradas, os embriões da Ciência e da Filosofia, as religiões e os primeiros governos com alguma constituição.
Misturavam-se sociedades dominadoras e anárquicas, simples e complexas, comandadas por líderes (justos ou repressores), ou até mesmo em um inacreditável e harmonioso estado de Democracia pura.
Alguns sentiram (e ainda sentem) a angústia de algo maior e invisível – muito além do que se vê e entende como leis do universo físico – e assim nasceu a espiritualidade.
Com o crescer do nível de complexidade das instituições humanas, nos deparamos com a criação e a destruição, com o conhecimento e o medo dele. O poder desencarna dos músculos e evolui para outras instâncias humanas.
Assim, uma complexidade antes inimaginável surge da mistura de política, religião, Ciência e Filosofia, sustentadas por sociedades e crenças diversas, divisão territorial, culturas e línguas diferentes. Nasce o terrível jogo político, a concentração de poder e riquezas, novas armas, técnicas e motivações para infindáveis conflitos.
Neste caminhar da História, vimos estados monárquicos crescerem e definharem e ditaduras oprimirem e massacrarem sua própria gente para, depois, caírem.
Vimos o fanatismo e o ódio entre povos e culturas diferentes justificarem guerras e genocídios.
Vimos nações sendo guiados por cegos, sanguinários e medíocres.
Vimos também a revolução industrial, o surgimento do capitalismo, de empresas e pessoas poderosas como nações.
Vimos escravidão e todo tipo de opressão.
Pudemos viver a revolução tecnológica, o surgimento da World Wide Web e da era da informação.
Compreendemos que a Terra é finita, que os recursos acabam, e que o futuro da humanidade depende de respeitarmos os limites do planeta.
Conhecemos, também, um pouco do nosso verdadeiro lugar no universo: um minúscula rocha escondido na periferia de uma galáxia – ela mesma pequena e igual dentre bilhões de outras.
Perscrutamos novas realidades, trazidas à luz visível pelo desenvolvimento científico que possibilitou a manipulação genética, a exploração espacial, o surgimento da Física Quântica, Relativística e Nuclear, entre tantas conquistas.
Enfim, vimos a complexidade infinita do Universo e quão limitado somos, condenados a vivermos presos em nossa inescapável finitude.
Tantas lições – para pessoas e nações – que podem ser tiradas de nossa história, do conhecimento acumulado, de nossa experiência pretérita e atual.
Mas caminhamos errando enormemente ainda agora, fazendo coisas que a experiência já nos mostrou ser um grande equívoco:
- Voltamos a misturar Governo e Religião, crença e Ciência;
- Continuamos a fabricar milhões de miseráveis para que apenas alguns vivam a vida de imperadores, abençoados pelo Deus-Mercado;
- Na era da informação, teimamos em cultivar vícios, ignorâncias e preconceitos;
- Tratamos nossas crianças como objetos de abandono, ou na superficialidade que vem da falta de limites, fabricando adultos desajustados em série;
- Depredamos nosso planeta tal qual vírus e gafanhotos, consumindo tudo sem pesar;
- Ainda se louva estados repressores, se reverencia ditadores. Alguns saem às ruas cometendo o crime de pedi-los (para estes, eu daria 5 minutos encarnados no corpo dos torturados, para cair na real da dor sentida – de corpo e alma –, infligida por monstros travestidos de autoridade);
- Muitos ainda acham que é moral viver em um país em que crianças sintam fome, e flagelados pereçam na seca – de água e de humanidade.
Só isso é humanamente justo e aceitável e poderá proporcionar paz e fraternidade como normas.
Já temos experiência e informação bastante para sabermos que a humanidade só prospera e vale a pena com tolerância entre pessoas e nações, com fartura para todos, com educação e respeito para com a natureza.
Porquê teimamos em cometer os mesmos erros se já estamos conscientes de sua capacidade destrutiva e desagregante?
Quem não aprende pela via da cooperação e do respeito, aprende pela dor (se ainda houver tempo para tal aprendizado).
Temos escolha?
EdiVal
25/04/2015