Poder, Autoridade e Serviço Público.
A posse de poder, de riqueza, de um cargo – as vezes de um passado abastado que não se deixou para trás – parece ser a senha para o egoísmo e a corrupção.A autoridade não se possui, e sim se estabelece entre duas ou mais pessoas; pode acontecer naturalmente ou depois de um embate de forças. Não existe autoridade sem aceitação – as vezes conquistada, as vezes covarde.
Seja como for, em regra seus detentores se utilizam da mesma como um equivalente a título da nobreza e chave que tudo abre – quem sabe, trator que abre caminhos e atalhos à força.
A Pompa.
Pompa implica orgulho, luxo, ostentação; é deslumbramento, desejo de glória e amor ao suntuoso.Às vezes, seus adeptos se utilizam do espetáculo cheio de cores; o poder e o orgulho, sempre, seus amores.
É claramente um meio de afirmação e de fascinação sobre dominados, além de regra de etiqueta necessária para a aceitação entre outros "iguais".
Deste modo, ela altera as verdadeiras relações, pois coloca um humano distante dos outros, como se aquele ascendesse a um patamar mais elevado – tal qual trono ou altar –, exatamente o que é buscado pelos que a vestem.
É uma técnica de HIPNOSE VISUAL.
Talvez tenha tido sua utilidade na História da humanidade, mas não cabe nos dias atuais.
O Resultado.
Egos inflados, vestidos de TOGA real – sedutora para si próprio e hipnotizante para as massas.Psicologicamente, o povo se deixa dominar por um "estigma da fascinação", que aceita e, até, reverencia uma suposta casta superior que habita o palácio da realeza; já os que ascenderam ao Olimpo e vestiram a toga se deixam dominar pelo poder que auferiram.
Assim se forma um povo fascinado pelo brilho palaciano, e uns poucos humanos que se sentem elevados a outro patamar, o crème de la crème dos filhos da terra, merecedores de todos os privilégios e reverências.
Muitos deles acabam construindo – a um nível subconsciente – uma excessiva e deturbada noção de auto-importância, acreditando-se realmente especiais e incorporando esta nova auto-imagem ao seu modus operandi.
É do conhecimento popular que se tornar rico e poderoso é passaporte para as facilidades ofertadas por legiões de puxa-sacos, por assediadores com interesses escusos, e por pares ao reconhecer um "igual".
Os togados se apropriam, estimulam e se sentem bem com a autoridade "superior" obtida através do poder (um grande e doce amor) e buscam demonstrar uma altivez que não lhes pertencem; o ar de orgulho e soberba por se acharem acima dos reles mortais resplandece em um indisfarçável olhar de lânguida indiferença, mas pelos buracos de suas ricas vestes escapa a frívola superficialidade.
Exemplo de arrogância e preconceito – expresso na fala e no olhar – encontrados em "autoridades" desde que o mundo é mundo. |
As "castas superiores" se amam e se protegem!
(Um segredo: eles tem medo do povo!).
Brasil.
Assim, neste país reinam os pomposos maquiavélicos desde sua descoberta:- Um juiz manda prender a agente que rebocou seu carro; outro perde o voo e manda prender funcionários da empresa aérea;
- Um formado elitoso grita "SOU ARQUITETA!!!!" para o policial que a parou no trânsito;
- O pastor que abusa da ignorância de seus fiéis, achando-se, ele próprio, acima do bem e do mal, auto-investido e aceito pelos crentes na condição de "canal particular de Deus";
- E o caso do juiz que processou o porteiro para que este fosse obrigado a chamá-lo de doutor? Não, ele não tem o título de doutorado;
Policial espirra spray de pimento em criança em protesto de desabrigados da chuva (Niterói, 2011). |
Mas uma farda é peixe pequeno na hierarquia dos egos togados – lembremo-nos, pois, da pomposa arquiteta!
E mais um milhão de exemplos reportados, dentro de um universo infinitamente maior que não vieram, não vem e nem virão a público, a todo tempo, em todo lugar – sempre com pessoas (desprovidas de toda pompa) humilhadas, injustiçadas, feridas – e cada vez mais perdidas em sua própria "pequenez".
Neste País, quem tem não tem nem título nem diploma, mas possui poder e/ou dinheiro, é "coroné", ou até vira "dotô" na boca dos lacaios lambe-botas – quase uma autoridade!
O perigo é se acharem realmente superiores.
E o ego togado quer sempre mais poder e riqueza; nada o satisfaz, não existem limites. Deseja viver em meio à pompa e ao luxo – haja vista a corrupção milionária insaciável e a construção de palácios suntuosos com o dinheiro público para que reinem os governantes, juízes e legisladores.
Enquanto o judiciário se preocupa em construir prédios majestosos, os processos se acumulam, como é sabido.
A Solução.
Diante deste quadro, só há uma solução:
Que nos desvencilhemos de toda pompa!
Pelo fim dos doutores reverenciais, excelências insaciáveis e santidades hierárquicas;
Pelo fim das togas, coroas e títulos excelentíssimos;
Pelo fim dos privilégios, dos carteiraços, do "você sabe com quem está falando?".
Que seja condição sine-qua-non o primor pela eficiência e a austeridade, pelo foco no bem-estar da população, pela responsabilidade com os poderes outorgados e desejo incessante de que avancemos como povo e nação.
Que todos sejamos iguais em humanidade. Olho no olho, à mesmo altura – independente do cargo, da riqueza e do poder. Que se obtenha qualquer autoridade somente pela via do respeito e do exemplo.
E que ela venha para servir!
É Esta Uma Utopia?
Pode imaginar, caro leitor, como seria um mundo sem a elite dos pomposos togados? Difícil até de formular cenários e referências, não é mesmo?Mas sim, existem exemplos! Veja os políticos e juízes da Suécia (g1.globo.com), que "ganham pouco, andam de ônibus, cozinham sua própria comida, lavam e passam suas roupas e são tratados por "você"".
Conclusões Que Se Podem Tirar.
Em um olhar justo, no serviço público – políticos, juízes e presidentes inclusos – ninguém deveria se considerar dono de nada; ao contrário, deveria se enxergar em um sacerdócio com uma missão nobre e com enormes responsabilidades – investido de algo maior que eles próprios.A força da lei deveria ser maior ainda para os que se utilizam do poder adquirido para corromper a investidura de sua posição, pois além de corruptos, são covardes.
Mas cuidado! O poder pomposo, dependendo do nível de patologia, fará de tudo para manter sua realeza – até matar milhões, se preciso for.
Acredito que esta utopia para os dias atuais será a norma em um futuro nem tão distante assim.
Por enquanto, lutemos por mais Democracia, igualdade, acesso, transparência, responsabilidade com a coisa pública, amor ao Brasil e respeito para com todos os cidadãos da Terra.
E tudo isso passa, inexoravelmente:
Pelo fim de toda pompa e seu mundo de egos togados!
EdiVal
09/04/2015
P.S.: Este texto é um elogio à elegância pacificadora da simplicidade nas relações humanas.
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