quinta-feira, 9 de abril de 2015

Pelo Fim de Toda Pompa!

Poder, Autoridade e Serviço Público.

A posse de poder, de riqueza, de um cargo – as vezes de um passado abastado que não se deixou para trás – parece ser a senha para o egoísmo e a corrupção.

A autoridade não se possui, e sim se estabelece entre duas ou mais pessoas; pode acontecer naturalmente ou depois de um embate de forças. Não existe autoridade sem aceitação – as vezes conquistada, as vezes covarde.

Seja como for, em regra seus detentores se utilizam da mesma como um equivalente a título da nobreza e chave que tudo abre – quem sabe, trator que abre caminhos e atalhos à força.

A Pompa.

Pompa implica orgulho, luxo, ostentação; é deslumbramento, desejo de glória e amor ao suntuoso.

Às vezes, seus adeptos se utilizam do espetáculo cheio de cores; o poder e o orgulho, sempre, seus amores.

É claramente um meio de afirmação e de fascinação sobre dominados, além de regra de etiqueta necessária para a aceitação entre outros "iguais".
Deste modo, ela altera as verdadeiras relações, pois coloca um humano distante dos outros, como se aquele ascendesse a um patamar mais elevado – tal qual trono ou altar –, exatamente o que é buscado pelos que a vestem.

É uma técnica de HIPNOSE VISUAL.

Talvez tenha tido sua utilidade na História da humanidade, mas não cabe nos dias atuais.


O Resultado.

Egos inflados, vestidos de TOGA real – sedutora para si próprio e hipnotizante para as massas.

Psicologicamente, o povo se deixa dominar por um "estigma da fascinação", que aceita e, até, reverencia uma suposta casta superior que habita o palácio da realeza; já os que ascenderam ao Olimpo e vestiram a toga se deixam dominar pelo poder que auferiram.

Assim se forma um povo fascinado pelo brilho palaciano, e uns poucos humanos que se sentem elevados a outro patamar, o crème de la crème dos filhos da terra, merecedores de todos os privilégios e reverências.
Muitos deles acabam construindo – a um nível subconsciente – uma excessiva e deturbada noção de auto-importância, acreditando-se realmente especiais e incorporando esta nova auto-imagem ao seu modus operandi.
É do conhecimento popular que se tornar rico e poderoso é passaporte para as facilidades ofertadas por legiões de puxa-sacos, por assediadores com interesses escusos, e por pares ao reconhecer um "igual".

Os togados se apropriam, estimulam e se sentem bem com a autoridade "superior" obtida através do poder (um grande e doce amor) e buscam demonstrar uma altivez que não lhes pertencem; o ar de orgulho e soberba por se acharem acima dos reles mortais resplandece em um indisfarçável olhar de lânguida indiferença, mas pelos buracos de suas ricas vestes escapa a frívola superficialidade.

Exemplo de arrogância e preconceito  – expresso na fala e no olhar – encontrados em "autoridades" desde que o mundo é mundo.
Eles – os famosos poderosos e abastados deslumbrados – se acham uns aos outros na high society e círculos de poder, se reconhecendo como iguais, apoiando um ao outro para que juntos construam muros e, cada vez mais, se distanciem das "gentes diferenciadas" (Brasil, 2014).

As "castas superiores" se amam e se protegem!

(Um segredo: eles tem medo do povo!).

Brasil.

Assim, neste país reinam os pomposos maquiavélicos desde sua descoberta:
  • Um juiz manda prender a agente que rebocou seu carro; outro perde o voo e manda prender funcionários da empresa aérea;
  • Um formado elitoso grita "SOU ARQUITETA!!!!" para o policial que a parou no trânsito;
  • O pastor que abusa da ignorância de seus fiéis, achando-se, ele próprio, acima do bem e do mal, auto-investido e aceito pelos crentes na condição de "canal particular de Deus";
  • E o caso do juiz que processou o porteiro para que este fosse obrigado a chamá-lo de doutor? Não, ele não tem o título de doutorado;
Policial espirra spray de pimento em criança em protesto de desabrigados da chuva (Niterói, 2011). 
Uma farda, e já tem tapa no "neguinho da periferia"; e ai de quem enfrentar: periga não acordar!
Mas uma farda é peixe pequeno na hierarquia dos egos togados –  lembremo-nos, pois, da pomposa arquiteta!

E mais um milhão de exemplos reportados, dentro de um universo infinitamente maior que não vieram, não vem e nem virão a público, a todo tempo, em todo lugar – sempre com pessoas (desprovidas de toda pompa) humilhadas, injustiçadas, feridas – e cada vez mais perdidas em sua própria "pequenez".

Neste País, quem tem não tem nem título nem diploma,  mas possui poder e/ou dinheiro, é "coroné", ou até vira "dotô" na boca dos lacaios lambe-botas – quase uma autoridade!

O perigo é se acharem realmente superiores.

E o ego togado quer sempre mais poder e riqueza; nada o satisfaz, não existem limites. Deseja viver em meio à pompa e ao luxo – haja vista a corrupção milionária insaciável e a construção de palácios suntuosos com o dinheiro público para que reinem os governantes, juízes e legisladores.
Enquanto o judiciário se preocupa em construir prédios majestosos, os processos se acumulam, como é sabido.

A Solução.

Diante deste quadro, só há uma solução:

Que nos desvencilhemos de toda pompa!

Pelo fim dos doutores reverenciais, excelências insaciáveis e santidades hierárquicas;
Pelo fim das togas, coroas e títulos excelentíssimos;
Pelo fim dos privilégios, dos carteiraços, do "você sabe com quem está falando?".

Que seja condição sine-qua-non o primor pela eficiência e a austeridade, pelo foco no bem-estar da população,  pela responsabilidade com os poderes outorgados e desejo incessante de que avancemos como povo e nação.

Que todos sejamos iguais em humanidade. Olho no olho, à mesmo altura – independente do cargo, da riqueza e do poder. Que se obtenha qualquer autoridade somente pela via do respeito e do exemplo.

E que ela venha para servir!

É Esta Uma Utopia?

Pode imaginar, caro leitor, como seria um mundo sem a elite dos pomposos togados? Difícil até de formular cenários e referências, não é mesmo?

Mas sim, existem exemplos! Veja os políticos e juízes da Suécia (g1.globo.com), que "ganham pouco, andam de ônibus, cozinham sua própria comida, lavam e passam suas roupas e são tratados por "você"".


Conclusões Que Se Podem Tirar.

Em um olhar justo, no serviço público – políticos, juízes e presidentes inclusos – ninguém deveria se considerar dono de nada; ao contrário, deveria se enxergar em um sacerdócio com uma missão nobre e com enormes responsabilidades – investido de algo maior que eles próprios.

A verdadeira autoridade – desde aquela necessária para a criação dos filhos – se constrói com respeito, igualdade e justiça. Ninguém tem o direito de olhar outrem "de cima". Há que haver o olho-no-olho em atitudes multilaterais de igualitária simplicidade.

A força da lei deveria ser maior ainda para os que se utilizam do poder adquirido  para corromper a investidura de sua posição, pois além de corruptos, são covardes.

Mas cuidado! O poder pomposo, dependendo do nível de patologia, fará de tudo para manter sua realeza – até matar milhões, se preciso for.

Acredito que esta utopia para os dias atuais será a norma em um futuro nem tão distante assim.
Por enquanto, lutemos por mais Democracia, igualdade, acesso, transparência, responsabilidade com a coisa pública, amor ao Brasil e respeito para com todos os cidadãos da Terra.

E tudo isso passa, inexoravelmente:

Pelo fim de toda pompa e seu mundo de egos togados!

EdiVal
09/04/2015

P.S.: Este texto é um elogio à elegância pacificadora da simplicidade nas relações humanas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seus comentários são muito importantes! Obrigado!