quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Carta Aberta aos Barros e a Todos Que Atacam o Bolsa Família

Motivação.
Como paranaense, como brasileiro e, principalmente, como ser humano, senti a necessidade de escrever um pouco sobre o assunto trazido à pauta pelos  Barros – uma família de políticos profissionais de matriz maringaense (PR).
Se trata de um ataque ao Bolsa Família, programa de assistência social do governo brasileiro que conta com 13,9 milhões de famílias beneficiadas.
Um, deputado federal Ricardo Barros (PP), quer tirar 10 bilhões do programa; outra, deputada estadual Maria Victoria B. Barros e filha do primeiro, defende o pai em uma coluna, repetindo o eterno jargão do "ensinar a pescar, e não dar o peixe", e que pode ser lida aqui.

Ricardo Barros. 
Cida Borguetti, Ricardo Barros e a filha Maria Victoria.
Não posso deixar de apontar que Ricardo Barros – como tanto vemos no Brasil atual – é um político que responde a alguma investigação por corrupção. Existe até mesmo uma gravação comprometedora no Youtube sobre licitações com sua própria voz ressoando em nossos ouvidos indignados (veja aqui e aqui). Recentemente, ele votou a favor de Eduardo Cunha no Conselho de Ética – político este com fatos que o habilitam ao vergonhoso posto de "maior corrupto da história republicana". Faço estas colocações como desabafo e desmérito da ação partindo de um político com tal condição egóica, mas não pretendo fazer, absolutamente, uma argumentação ad hominem. Pretendo ser – ao mesmo tempo – pragmático, libertário e humano. 
Este político profissional, RB, deseja agora subtrair do mundialmente reconhecido programa muito dinheiro e, consequentemente, pessoas.

Ensinar a pescar? Crescer para depois distribuir?
Na miséria e na fome não se pesca, se rasteja no chão e se fica preso nas malhas escuras da ignorância, e esta condição é perpetuada em cada filho nascido no seio do abandono pela sociedade e pelo estado. Já foi dado a cota do "ensinar a pescar" e "crescer  para depois distribuir"; chega de –década após década, século após século – ouvir as mesmas promessas para, depois, nada ser feito – e todos sabemos: nunca será feito se este caminho continuar sendo trilhado.

A armadilha da pobreza.
O abandono à própria sorte constrói uma armadilha que se reproduz de geração para geração. A pobreza traz a falta de nutrição e o consequente subdesenvolvimento cognitivo, a consumição pessoal no trabalho estafante para "malemá" se conseguir trazer comida para a mesa, e a revolta de ser miserável em um país rico. Como uma pessoa presa nesta vil armadilha pode escapar e crescer?
Não sem ajuda! Para quebrar este circo vicioso, é necessário uma ação afirmativa dos governos.
É um preço mínimo que se deve pagar e, se pensarmos bem, é um direito e seguro para todos os brasileiros: se pelas peripécias do destino um dia você, Maria Victoria, ficar na miséria, terá o direito a essa quantia e não morrerá de fome. Poderá comer arroz e feijão, e não as sobras do lixo. Ah sim, deixa eu te falar: não pareceu saber, mas esse valor não é a fortuna que você, espetacularmente, parece insinuar em seu texto...

Crianças.
O programa Bolsa Família mantém 36 milhões de pessoas fora da linha da extrema pobreza. Quero fixar algo: nunca, NUNCA se esqueçam que milhões dessas pessoas são crianças, seres humanos frágeis em plena formação intelectual, emocional e física. Elas são inocentes CRIANÇAS, ressalto novamente! Se o programa evitar a dor da fome de apenas UMA criança nesta terra plena de fartura, para mim já terá valido a pena.

O empoderamento das mulheres e o caso do sertão.
Sabe-se que as mulheres são as titulares de 93% dos cartões do Bolsa Família, o que está ajudando a romper a cultura da resignação de mulheres frente aos companheiros. Sabia, Maria Victoria, que segundo um estudo da socióloga Walquiria Leão Rego, era terrível a condição de uma infinidade de mulheres no Sertão Nordestino? Para elas sempre foi assim: sem dinheiro, sob o jugo do marido "provedor" e machista, dos inúmeros filhos e da fraqueza da fome e miséria, da obscuridade da falta de instrução, completamente perdidas na caatinga isolada. O Bolsa Família teve um efeito empoderador para estas mulheres, libertando-as do jugo destes homens opressores até onde o pouco dinheiro do programa pode libertar.
Você que é mulher, pode entender como pode ser terrível uma vida de prisão marital? Gostaria de ter esta condição para você ou para as mulheres de sua família? É capaz de entender o bem que esta mísera quantia fez para estas sofridas mulheres presas no sertão seco e pobre?
O que um "ensinar a pescar" poderia ajudar estas mulheres?

Bolsa Família: uma ampla e barata vacina!
O Bolsa Família melhorou a alimentação das famílias e reduziu em mais de 50% a morte infantil por diarreia e desnutrição. Não se esqueçam, Barros todos, que o programa é condicionado: as crianças devem ir à escola, garantindo que 17 milhões de estudantes tenham sua vida escolar acompanhada. As crianças estão ficando mais altas, inteligentes e com boa auto-estima. É como uma vacina multivalente que deve ser aplicada às mais fracas das gentes, reverberando como um inteligente, econômico e humano INVESTIMENTO no futuro do Brasil!

Os flagelados da seca.
Houveram muitas secas marcantes na história nordestina e, nas décadas passadas, ouvíamos periodicamente nos noticiários da TV notícias sobre os "flagelados da seca". Uma seca que ocorreu no período de 1979 a 1984 era, na época, a mais longa e abrangente da história documentada do Sertão onde, segundo dados da Sudene, se registrou  um número inacreditável de mortos: 3,5 milhões de pessoas – especialmente crianças! – devido não só à fome e à sede agudas, mas também à doenças advindas da desnutrição. Repito: 3 MILHÕES E QUINHENTAS MIL PESSOAS MORTAS DE FOME E SEDE!
Hoje, passamos por uma seca pior do que aquela e não se houve mais falar dos tais flagelados, devido única e exclusivamente aos amplos programas governamentais. É um milagre brasileiro que faria Betinho sorrir emocionado.
Sabem quem foi Betinho, senhores e senhoras Barros?

Economia.
Com o Bolsa Família, o dinheiro repassado estimula a economia dos municípios, gerando um circulo virtuoso de trabalho e renda para outras pessoas sendo que, neste jogo, cada 1 real investido retorna 1,78 reais para a economia. Ele ajuda a manter aquelas milhões de pessoas na ponta da pobreza como membros ativos economicamente e move um desejo de crescer cada vez mais. Já pensaram no valor disso, mesmo num contexto de economia de mercado?

As pessoas e seus direitos, a sociedade sectária-depredatória e o Basic Income.
Os seres humanos nascem na terra, e todos tem direitos: direito à vida, à liberdade; direito à uma vida plena e com o mínimo para sobreviver. Mas a sociedade – como está constituída – retiram dos marginalizados estes direitos e o quinhão que lhes cabe deste mundo; não permitem mais a eles adentrar na floresta e se alimentar do que o planeta oferece, como consegue fazer qualquer animal livre. Cercam as propriedades e as belezas naturais e dizem que ninguém pode entrar, depredam o mundo e exaurem suas riquezas.
Mas ninguém é, verdadeiramente, dono da terra! Todos nós – animais humanos e animais inumanos –temos direitos como terráqueos que somos. Assim, é natural e justo que parte da riqueza seja, sim, distribuída entre todos os habitantes deste belo planeta, incondicionalmente, somente pelo fato de ser um cidadão da Terra.
O mundo começa a se aperceber disso e caminha para o Basic Income, a Renda Básica que, se vocês não sabem, é uma quantia para ser paga em dinheiro a cada cidadão vivo. No Brasil, a lei n° 10.835/2004 (do Senador Eduardo Suplicy) institui a Renda Básica de Cidadania e foi aprovada pelo senado e sancionada pelo Presidente da República em 2004, devendo ser aplicada de forma gradual começando pelos mais necessitados, como uma perfeita evolução do Bolsa Família.
Isto deveria ter acontecido há muito tempo, mas a lei não foi cumprida. Apesar destes fatos, o que os Barros fazem? Tencionam retirar uma das únicas medidas que foram efetivamente feitas desde o descobrimento do Brasil para sanar as imensas e seculares injustiças da sociedade brasileira.
Querem destruir aquilo que amenizou nossa vergonha perante o mundo e o Transcendente, como se desejassem outras milhões de crianças mortas de fome e sede, vistas no Brasil das décadas passadas.
É isso que desejam para a infância do Brasil, caros membros da família Barros e outros bolsa-atacantes?

A conta prejuízos.
Sabe-se que nada é perfeito. Uma empresa tem a conta "prejuízos" pois falhas ocorrerão, acarretando um respectivo custo. Até na religião é assim: hipócritas, pedófilos e ladrões existem nela em certo grau, mas nem por isso pensa-se em acabar com as religiões. Se a corrupção existe, o que se deve fazer é combatê-la o máximo possível e tentar banir os maus. Da mesma forma, muitos beneficiários e intermediários dos programas assistenciais farão coisas erradas, mas como tudo neste mundo, deve-se tentar melhorar, e não acabar com tudo.
Se transpormos esta posição assumida por vocês a todas as esferas, a sociedade humana acaba.

Bolsa Família no Mundo.
Você acha que somente o Brasil tem programas deste tipo, Victoria e Ricardo? Alemanha, Estados Unidos, França Inglaterra e muitos outros grandes países deste mundo colocam valores nas mãos dos pobres que ficaria faria de você uma moça enormemente surpresa e portadora de vergonha ao encher a boca para falar dos míseros dos 70 reais do programa brasileiro. Pesquise e verá com os próprios olhos.

Custo.
Dividindo o custo total do programa para cada brasileiro, quanto sai proporcionalmente do seu bolso, do seu pai e de sua mãe ao ano, jovem deputada? Pago-lhes uma cerveja com este valor se, mesquinhamente, sentem alguma revolta por esse dinheiro que lhe é "subtraído".

Se eu pudesse... 
Daria a todos os que julgam e condenam os pobres beneficiários do Bolsa Família – não como castigo, mas como necessário remédio amargo pró-empatia:
- Uma semana de fome;
- Uma sequência constante e infindável de perda de direitos e de condições de sair da armadilha da pobreza;
- Um silencioso e mesquinho abandono dos governos enquanto as misérias sociais consomem a você e aos seus;
- A dor de não poder alimentar a quem ama.
Assim, entenderiam pela via da realidade sentida a importância primordial – acima de todo argumento – de um país sem fome. Só assim, talvez, pudessem entender – porque o melhor remédio e escola é viver a realidade do que, sem pensar, se clama, e também sentir a dor do outro que se desdenha.

Questão final:
Do barro da terra se converte a criatividade humana em coisas úteis.
E dos Barros – entidades políticas e humanas–, o que virá?
Sua Vitória é subtrair avanços e devolver pobreza, cara Maria?

EdiVal
16/12/2015


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