sábado, 22 de novembro de 2014

As Transposições do Rio São Francisco na Crônica de uma Bióloga Encantada

“Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor as fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma” 
(Miguel Torga).

O termo transposição pode ser definido como o ato ou efeito de ascender, escalar, sobrelevar. Em um sentido metafórico, pode ser colocado como a superação dos obstáculos, onde o personagem – herói ou vilão – consegue transpor-se para um novo patamar (interno ou externo, material ou imaterial): perfeita figura de linguagem para todos os tipos de saltos quantitativos/qualitativos. Metáfora, curiosamente, pode ser definida como a transposição do sentido de uma determinada palavra para outra, sentido este que, inicialmente, não lhe era pertencente – coisa relevante neste texto.

Mas deixemos de lado outros prolegômenos definitórios e vamos logo ao que interessa: a protagonista desta história é Juliana (Oliveira, J.S.B.). Ela nasceu no Mato Grosso do Sul e veio aqui pro Paraná estudar na Faculdade. Bióloga por vocação, logo que se viu com o canudo diploma na mão, aventurou-se em um mestrado na Agronomia; na agro – sem querer ser diferente mas já sendo (como sempre...) – escolheu um tema de estudo para sua dissertação tão sustentável quanto controverso: Homeopatia em vegetais! E antes que falem: sim! Ela obteve resultados positivos (não infinitesimais), parte recém publicados no paper Activation of biochemical defense mechanisms in bean plants by homeopathic preparations”.

Depois de defender seu mestrado com doses cavalares de apresentação, agora ela quer ser doutora; e para variar (adivinha!) sua tese também não tem uma hipótese de estudo muito comum não, versando sobre o uso de Elementos Terras Raras na agricultura. Controversa e corajosa, essa menina!

Uma bela morena, diga-se de passagem, cheia de vida. Pesquisadora, atleta e pianista!

E minha garota, que besta é que não sou!

Quer saber mais sobre as revolucionárias pesquisas desta jovem cientista? Vide Currículo Lattes, claro!

Mas como não só de ciência que se vive uma vida, de vez em quando dá tempo da gente bater um papinho, e por estes momentos sei bem que ela não gosta de política – demonstrando certa irritabilidade indisfarçável ao falar no assunto; também não concorda com muitos programas governamentais, e com certeza se posicionaria na oposição, se política fosse. Dificilmente conversamos estes assuntos (questão de estratégico bom senso...).

Sobre o Nordeste, estava impresso em seu cérebro o que mora na cabeça da maioria dos brasileiros: a imagem da seca, da desolação, da subnutrição e da pobreza; dos coronéis, da indústria da seca, do voto de cabresto – construída ao longo dos séculos por uma história de opressão por parte da natureza e dos homens – em uma região onde a escassez seria, além de água, alimentos e recursos, também de tecnologia, investimentos, cultura e “vergonha na cara” por parte dos donos do poder.

Quanto à polêmica obra de combate (ou de convivência) com a seca denominada “Transposição do Rio São Francisco” (TRSF), até recentemente sua impressão era de que se tratava de mais uma obra faraônica de cunho político/eleitoreiro do Governo Federal, totalmente desvinculada da realidade e cujos recursos poderiam ser utilizado de forma mais eficiente em outros projetos. Também estava em sua mente a “certeza” de que a obra não obteria uma aprovação de uma área técnica especializada séria, e que acabaria se configurando, regionalmente, como mais uma fonte de enriquecimento de “coronéis” e moeda de compra de votos.

Como bióloga, somava-se às questões citadas outra que era (como não podia deixar, por coerência, de ser) uma das suas maiores preocupações: a ecológica! Estaria havendo um cuidado mínimo quanto ao impacto ambiental? Também questionava, academicamente centrada como é: foram feitas parcerias com universidades? Finalizou, com ênfase e consciência social: privilegiar-se-ia, acima de tudo, o benefício coletivo? (Não é um primor?).

Mas em uma recente viagem com objetivos acadêmicos até a fonte dos acontecimentos – onde correm as integradoras águas do Velho Chico – ela se viu depositária de muitas informações privilegiadas, o que a forçou a mudar muito pontos de vista pessoais sobre este tema. Contando como foi esta aventura, ela me trouxe preciosos elementos e ajudou a consolidar e colapsar outros pontos, e espero que, com este texto, novas percepções sejam levadas também aos leitores do mesmo.
Esta viagem foi realizada no primeiro semestre de 2014 onde, em uma reunião para apresentação de dados na Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF), palestrar Juliana foi: deixou pra trás todo o marasmo do Paraná, comprou uma passagem e foi direto a Petrolina, Pernambuco. E assim nossa heroína sentiu-se, repentinamente, como verdadeira personagem de um romance de Graciliano Ramos em épicas histórias nas veredas do grande Sertão.

Mas, antes de tudo, viveu seus dramas de estudante-profissional-cientista: apresentou, assistiu, ensinou, aprendeu; cumpriu com sucesso sua missão acadêmica no projeto que, à época, participava: o SISBIOTA Brasil - Sistema Nacional de Pesquisa em Biodiversidade – "bioprospecção de fungos sapróbios no PPBIO/ semi-árido nordestino para o controle de doenças infecciosas em plantas: indução de resistência" (ufa!).

Apresentação de resultados da pesquisadora ( e minha namorada nas horas vagas) Oliveira, J.S.B., na UNIVASF (Petrolina, PE), dentro do programa SISBIOTA Brasil.

Finalizada com êxito sua missão – mas ainda na condição de profissional/cientista – impressionou-se com a universidade: equipamentos de ponta (“ow! Novinhos em folha”, disse), laboratórios muito bem organizados, equipe de pesquisadores ativos, entusiasmados e em pleno desempenho de suas funções “pesquisísticas”. Em suma, muita grana rolando, bem aplicada na montagem dos laboratórios, na formação de um corpo acadêmico forte e também na consecução de projetos, muitos direcionados ao desenvolvimento e preservação do sertão. Foi o que ela viu e, eufórica, retornando me contou (depois da matada épica de saudades, claro!).

E pelo que se sabe este não é um fato isolado! Tanto que, neste ambiente acadêmico que estamos inseridos, a grande fonte de empregos – por conta das novas universidades que estão sendo abertas ou pela ampliação do número de vagas – corre à boca miúda: aumenta conforme subimos em direção ao Norte! E já vou avisando: ela também pretende brigar por sua vaga quando, num futuro próximo, for a “Doutora Juliana” (chique no último!), sobrando, para todos mais, n-1 vagas, capiche?

Esta foi a primeira transposição pessoal da nossa protagonista:

Da região seca não só de água, mas também de saber, para um surpreendente Nordeste irrigado de conhecimento e ciência.

Mas depois, Juliana Batista, “animada pra guerra”, foi lá fora excursionar – no campus e no campo (pois boba ela não é!). Tomada como sempre por seu característico sentido de apreciação turística e curiosidade irrequieta, procurou fazer muitas perguntas e participar o máximo possível – assumida amante das interações interpessoais que é – do que é típico e pitoresco da região e do seu povo.

Ju interagindo (gente, duas dela na janela!).

No vale, virou encantada, e pode coletar novos dados que mudaram mais de seus pontos de vista: viu um Nordeste de paisagens incríveis (sim, fora do litoral!); já do avião havia se impressionado com um verde inesperado. Nos caminhos sertanejos que passou, se deparou – entre tantas coisas que não cabem aqui – com os tais jegues trocados por motos por seus donos (recém ascendidos à classe média) que, abandonados, vagam pelo sertão, tema de várias matérias da mídia. Mas uma das experiências que mais a impressionou foi comer uvas dulcíssimas direto no pé debaixo de pomares gigantescos, capazes de produzir duas vezes por ano; além disso, com manejo e novas variedades, o Vale poderá vir a produzir, brevemente, uvas o ano todo! Soube também das pesquisas de desenvolvimento de novos produtos com esta paradisíaca fruta, como a produção de suco de uva (verdadeiramente) 100% integral e vinhos orgânicos, para a crescente indústria de processamento de alimentos da região.

Viu também muitas plantações de manga, goiaba, seriguela, abacaxi e outras mais, todas com saúde e produção excepcionais, proporcionadas por incentivos, pesquisa científica, irrigação franciscana e muito sol tropical!

Foto tirada em 26-03-2014, em Juazeiro (BA), mostrando belas paisagens...

Só não gostou de saber que a maior parte do que é produzido é exportado, mas reconheceu a riqueza que isso traz para a região.

Esta foi sua segunda transposição pessoal:

Da imagem estéril, amarga e cinza da terra seca, para um quadro mais fértil, doce e verde da terra molhada.

Mas as surpresas não pararam por aí! Ela teve a ímpar oportunidade de conversar com pesquisadores diretamente envolvidos com o projeto da TRSF, e pôde sentir o amor e entusiasmo que eles manifestavam por estar participando de tal empreitada. Claramente, essa foi a parte que mais a marcou e inspirou.

O professor que recebeu os alunos e coordena parte do projeto foi um destes. Era tanto entusiasmo, paixão e volição, que ela e outros tiveram a impressão de que este professor-pesquisador-coordenador, mesmo sem salário, continuaria trabalhando para dar seguimento ao que acredita; eles puderam enxergar olhos emocionados, quase lacrimejantes, neste mestre-pesquisador, ao contar detalhes do projeto que trabalha. Obteve a informação dos pesquisadores de que havia, sim, todo um cuidado na prospecção e no manejo quanto à fauna, flora, geologia e todo acervo biológico, com um forte estudo de impacto – ambiental e humano – iniciado em tempo para ser efetivo.

Em tempo: neste projeto, um bilhão de reais foi destinado para a área ambiental.

Ela contou também que a UNIVASF está absorvendo os próprios recém formados e que trabalharam desde o início com a transposição, garantindo um comprometimento excepcional.

Conversou também com uma promotora que fazia a conciliação com os desapropriados, que disse acreditar bastante no projeto, no sentido deste vir a verdadeiramente beneficiar a população. Em outras conversas, também trouxe a impressão de que o povo local estava confiante, acreditando que realmente a transposição era algo bom e viria, mesmo com atrasos, a melhorar a vida do sertão.

Depois de ela me contar t-u-d-i-n-h-o, nos mínimos detalhes, até se sentir completamente satisfeita (muitas e muitas... horas depois), pedi para July fazer uma síntese dos motivos para ela, agora, acreditar no projeto. Respondeu-me que, se antes achava que este era um projeto mais político do que tudo, nesta experiência descobriu que este possui, em sua base, além do forte estudo de impacto, um corpo técnico/executor comprometido, e este, segundo ela, seria a chave de tudo: COMPROMETIMENTO (ênfase dela).

Enfim, esta experiência, além de lhe trazer uma esperança justificada de que o projeto mude realmente a vida de milhões de pessoas, de tão rica para ela não tem o que pague: "Ow (lê-se 'ôul')! Foi maravilhoso sentir tanta paixão", confessou-me, expressando todo seu encantamento.

Esta foi a terceira e última transposição Juliana:

Da pré-concepção de ser a TRSF mais uma obra seca de potencial e caráter social, para a certeza de um projeto que, no mínimo, convence e entusiasma brasileiros altamente capacitados e cheios de amor por seu país, sua gente, e por seu trabalho transpositor.

Essa viagem, para nós, foi uma preciosa fonte de elementos relevantes, especialmente por se encontrarem fora do contexto das guerras política e midiática que praguejaram o Brasil da copa e das eleições. Estas informações, pinçadas honestamente “de dentro”, fazem (a meu ver) com que este texto tenha sua relevância e sua verdade e, assim, um porquê de vir a existir – uma pequena contribuição, mas ao menos estas experiências não morrem aqui: transponho-as do cárcere das lembranças e da efemeridade da palavra falada para a fisicalidade da linguagem escrita, apresentada na vitrine grande da websfera.

Infelizmente, o que se vê no Brasil desde sempre é a busca do benefício pessoal (do seu grupo político, de sua empresa, de sua classe), sem pensar – como bem disse Juliana – no benefício coletivo.

Com a reflexão derivada destes dados, enxergo que quando uma obra com bases técnicas firmes – segundo muitas vozes que se podem depositar valor – sonhada desde o império (1877), tentada por todos os governos depois da ditadura e que, indubitavelmente, trará maior segurança hídrica, resiliência socioeconômica, desenvolvimento e progresso para milhões de pessoas, é colocada dentro desta dinâmica contrária, corre-se o risco de matar a esperança e o futuro de toda essa massa humana que seria beneficiada; mas não só: destrói-se também um fantástico trabalho feito a inúmeras mãos, de pessoas que trabalham ali com paixão porque acreditam de verdade e que, com talento e espírito inquebrantável, não medem esforços para transpor do papel para a realidade uma obra com potencial de mudar o país e ficar na história.

São estes laboradores incansáveis que sentem – diretamente do olho do furacão – esta antienergia, mas não param de trabalhar em prol do que consideram importante e relevante, pois são movidos pela força vital que emana desta terra, para eles repleta de possibilidades inexploradas e de humanos merecedores de progredir sustentavelmente. Essa verdade, fato consumado, não pode ser refutada.

O que se podem inferir destes fatos? Tudo isso mostra que, indubitavelmente, existem outras transposições tão necessárias quanto esta debatida aqui (respeitando as opiniões diversas movidas por intenções positivas e com embasadas argumentações).

Transpor-se, enfim, para um novo patamar – mais elevado e mais bonito –  de Brasil e de brasileiros.

Espero que, juntos – a portadora da boa nova, Juliana, e eu, o escrevinhador desse causo – estejamos ajudando a trazer elementos de capacidade crítica através de informações privilegiadas de quem trabalha diretamente com o projeto e acredita no valor do que faz. Nosso paradigma norteador, desta maneira, é aquilo que apreendemos destas conversas “in loco”, e a base técnico-científica se sustenta nas revisões da literatura.

Este estudo me fez crer que o sonho do fim das vidas secas “a maior” virá quando for materializada aquilo que chamo de a “quadra redentora do Nordeste": revitalização, gestão, retenção e transposição, elevando o povo sertanejo para uma resiliência além da sobrevivência pura e simples, um salto para um novo patamar onde exista estabilidade social e econômica e seja, assim, possível crescer sustentavelmente e desenvolver-se em todos os sentidos.

Em suma, neste pequeno espaço-tempo aferido pôde-se ver e sentir que, mais que contratados para realizar um serviço, os trabalhadores da obra – de operários a cientistas – se vêem como portadores de uma missão histórica. Indubitavelmente, se fosse outro modelo de projeto leva-água para o sertão, eles estariam trabalhando com o mesmo amor e afinco para fazer funcionar, se nele acreditassem – simplesmente porque faz parte de suas naturezas.

Neste sentido, este texto poderia ser também, tranquilamente, intitulado como:

"Uma crônica sobre admiráveis brasileiros entusiasmados por participar da transposição de todas as secas”.

Nossas reverências – minhas e da protagonista que teve seu final feliz – a estes e a todos batalhadores que trazem consigo tais valores. Que eles não esmoreçam e continuem sonhando, se qualificando, trabalhando e crescendo para ajudar nesta empreitada de todos nós, brasileiros, para transpor o gigante adormecido em sustentável, dinâmico e justo colosso – porque os obstáculos são muitos e do tipo grandões.

E um beijo na Juliana! ;)

EdiVal
2014.

domingo, 16 de novembro de 2014

Os 50 Anos de Atrasos da Ditadura e a Reedição de 1964: Continuaremos a Permitir que Ataquem a Democracia no Brasil?

Neste texto procurarei demonstrar que, após cinquenta anos do golpe militar no Brasil, encontramo-nos, novamente, exatamente em cima do ponto de partida. Um ciclo de 50 anos em que a permissão dada pela geração de 64 de que a Democracia fosse encarcerada matou algo muito precioso: a luz dos povos livres, a estrela-guia da liberdade e a possibilidade da verdadeira expressão das potencialidades de um povo único.

Nos colocamos, hoje – como se fosse dada uma chance de redenção –  numa encruzilhada em que determinaremos, novamente, como serão os próximos cinquenta anos: um número redondo, meio secular e emblemático para um ciclo tão caro na vida de nosso país.

Nunca é demais relembrar: a palavra democracia se origina da contração dos termos gregos demos (povo) + cracia (governo), significando, desta maneira, que o povo detém, em princípio, poder sobre os poderes legislativo e executivo.

Não à toa, a Constituição do Brasil começa dizendo:
  • Art 1º - O Brasil é uma República Federativa, constituída sob o regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
  • § 1º - Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido.
A democracia garante – mesmo com defeitos de uma criação humana que é – a liberdade, a diferença de opiniões, distribui os direitos e as responsabilidades, protege (ou deveria proteger) a todos sem discriminação perante a lei; se baseia em eleições livres e na possibilidade de contraposição pacífica de ideias, ideais e modos de ação.

Viver em uma democracia é – mais do que ter direitos e deveres – ser ativo na construção e no desenvolvimento da nação.
Para se fazer democracia, necessita-se de um firme espírito conciliador, libertário e pacífico. A agressão, o ódio e a beligerância são antidemocráticos a maior.

Um regime não democrático não possui estas diretrizes. Pode-se citar como exemplos as ditaduras, o totalitarismo, o nacionalismo, o comunismo compulsório e o fascismo. Todos estes podem ser considerados como antagônicos da Democracia.

Na ditadura o poder reside em apenas uma instância, e não admite oposição a seus atos e diretrizes. Já nos regimes democráticos o poder é dividido entre Legislativo, Executivo e o Judiciário.

O Comunismo se configura uma doutrina social que prega o direito de todos a tudo, mediante, por exemplo, a extinção do direito à propriedade privada.

Muitos acreditam que o golpe de 64 foi algo necessário, no sentido de parar o um pretenso perigo comunista. Contudo isto não é verdade. Não existiam dados fortes e generalizados da existência deste perigo à época. O presidente João Goulart era um democrata com desejo de fazer reformas sociais, e apenas isso: um fazendeiro com boas ideias e intenções para as quais o país não estava preparado nem para ouvi-las. Prova disto é que seu governo sempre obedeceu todos os ritos democráticos.
Nas palavras de Fernando Henrique Cardoso:

“Jango assustava os proprietários e a classe média mais tradicional quando prometia reforma agrária e reforma urbana. Nós estávamos na Guerra Fria, e a tendência era radicalizar”

“Jango nunca foi comunista”.

Estes a quem um governo que pretendia necessárias reformas sociais assustava, se tratava da elite financeira e preconceituosa do Brasil e, portanto, com grande influência sobre a nação. Uma forte mobilização destes significava uma ação avassaladora a que as instituições democráticas brasileiras –que mal tinham acabado de nascer – não poderiam subsistir.
Uma pena, porque se tivessem resistido, teriam se consolidado, e estaríamos 50 anos à frente como povo e nação!

Aquela geração deveria ter confiado na força da democracia.

Mesmo que supostas "forças comunistas" tentassem crescer – o que os fatos indicam que nunca aconteceria – uma contraposição democrática fortaleceria de um modo inimaginável o espírito republicano do Brasil, e uniria seu povo em torno de uma grande ideia de liberdade e cuidado das coisas democráticas.
Infelizmente, mataram este caminho de crescimento multilateral.

Cartazes das manifestações pró-ditadura em suas duas edições (2014 e 1964).

Vemos que a democracia no Brasil é uma pequena linha escrita no livro de sua história. Nos seus 514 anos de existência, em apenas 53 deles floresceu uma democracia verdadeira (embora capenga) – menos de 1,5% de sua vida bebendo de tão límpida fonte! Foram 450 anos de aprendizado ditatorial, escravagista, excludente e de ódio às oposições, ideias contrárias e a qualquer cessão de privilégios.

Como podemos ver, analisando a história do Brasil é possível compreender a existência de tantas ideias e conceitos retrógrados enraizados na alma do brasileiro, que exista tanto ódio entre compatriotas, que as forças de segurança pública ataquem quem deveriam proteger, que se linche pessoas na rua, que se veja exposta – como chaga putrefata – uma polarização odiosa, e que alguns olhem com saudade os regimes violentos cerceadores de liberdades.

 Pode-se afirmar, simbolicamente, que em 1990 revivemos 1945, e que em 2014, tenta-se reeditar 1964.

Sem um lastro de experimentos democráticos de peso ao longo de grandes espaços de tempo, as dificuldades de viabilizar a democracia eram (são?) gigantescas. Imaginemo-nos em 1945: o povo só conhece a ditadura Vargas, o regime excludente da primeira república e, na memória dos mais velhos, a monarquia ainda deveria ressoar em sua visão de mundo.
Sem uma experiência anterior de participação política profunda, como seria viver em uma democracia? Em quem votar? Como fazer valer os direitos políticos e civis?

Era como a ingenuidade de um bebê aprendendo a andar com as próprias pernas!

Estes fatos se refletiram em governos estranhos e inconsistentes, adeptos de bravatas, além de instituições fracas, sem ideologias e comprometimentos com algo maior que as pessoas investidas do cargo. Contudo, este era parte indissociável de um necessário aprendizado (know-how democrático) que, de maneira alguma, poderia ter sido quebrado.
Mas o foi, INFELIZMENTE!

Todo o conhecimento obtido na escola da democracia, no (curto) período de 1945-1964, se desfizeram sob a truculência da ditadura!

Foi a morte da escola da democracia, mas não só! Foi a morte do pensamento livre, essencial para uma nação que deseja achar seus próprios caminhos para se desenvolver e encontrar seu lugar no mundo.
Pensemos: porque os regimes ditatoriais matam as pessoas que pensam, exilam suas mentes mais brilhantes, cerceiam a juventude? É óbvio!
E aqui não foi diferente. Este foi um fator de atraso que ainda, 50 anos depois, não nos recuperamos completamente. Como podemos construir uma nação livre e próspera matando as mentes que pensam mais profundamente e também o aprendizado derivado de nossas próprias escolhas?

Foram 50 anos roubados da possibilidade plena de olhar para si mesmos enquanto membros de uma sociedade livre, do atrito de ideias que advêm desta condição, da lapidação de cada ser pela necessária negociação e embate de ideais e de visões de seres com mesmo direitos, mas que são diferentes em suas necessidades, desejos e ideias.


Por isso nos debatemos tanto após a ditadura; por este motivo chegamos em 2014 com tantas mazelas expostas. Se a democracia não tivesse sido golpeada, teríamos passado por tudo que estamos passando nas décadas de 60-70, e ao PERSISTIR na grande escola democrática, teríamos nos desenvolvidos de uma maneira INIMAGINÁVEL. Estaríamos, hoje, no rol dos mais desenvolvidos países do mundo livre, como povo e como nação, gozando de nosso "estado de bem-estar social" (Welfare state).

Mas o Brasil e seu povo não podem fugir eternamente de seu destino!
Ao se reiniciar o regime democrático, novamente tivemos nossas experiências de governos difíceis e repletos de problemas.  E, mais significativo ainda: toda tentativa de fuga de uma experiência à esquerda e de necessárias reformas sociais se revelaram em vão, pois foi o que vimos acontecer – só que com décadas de atraso, e parcialmente.
Contudo, nunca se conquistou tanto em tão pouco tempo!

Seguindo na cronologia dos fatos, a reedição da história se completa no surgimento, novamente, de forças antidemocráticas, sectaristas e excludentes, levantadas por aquela mesma classe de pessoas que estão sentindo os ventos de mudanças que trazem para perto os miseráveis, tão úteis em um sistema de alta concentração de riquezas.

Novamente, se ataca um governo eleito democraticamente e que satisfaz todos os ritos do stabilichment democrático por não concordância com sua linha, mas que, principalmente, tem ideias que foram vencedoras nas urnas.

Esta é a verdade incontestável, seja qual for o grito dado:


A URNA DECIDIU  E ELA É SAGRADA!

Outro ponto relevante e objetivo mas que, paradoxalmente, não se mostra claro para a maioria dos povos, é que o comunismo ditatorial definha, falido e moribundo. O que se vê no mundo atual são cadáveres ambulantes de um ente que não deu certo, só esperando o tempo necessário para ser enterrado para sempre.
E clamam por ele, revivem-no para incutir medo nas mentes desinformadas.

Mas não estão mortos, absolutamente e ao contrário, a Ditadura, o Fascismo, o Totalitarismo. Só olhar as ruas, o mundo e as redes sociais e se enxergará o verdadeiro “inimigo”, e é preciso acordar para esta realidade!

Deste modo, os que atacam a democracia e apoiam a Ditadura se alinham e equivalem aos alardeados comunistas totalitários da época da guerra fria que tanto odeiam, e devem ser rechaçados (pacifica e democraticamente sempre)!
Não existem argumentos aceitáveis para os que cerceiam a democracia e a liberdade, aos que não desejam, injusta, egoística e desumanamente, perder ou partilhar privilégios: tudo para si e seus iguais, nada para os outros parece ser o lema.
Isto não é democracia, é a ditadura da exclusão social, da desigualdade e da concentração de poder sem limites.

Independente dos desejos de qualquer movimento e classes, a Democracia não pode ser atropelada. Seja dolorido ou não este caminho, o aprendizado democrático é imprescindível!

Trilhemos a Democracia caminhando pela estrada da liberdade e da soberania!

Vivamos plenamente o rito, as dores e as delícias de vivermos em uma grande e rica Nação democrática.

Não existem atalhos para a Democracia!

"A intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático" (Mahatma Gandhi)
EdiVal
16/11/2014

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Um País Chamado Rasil

Um tanto do Brasil
pode ser nominado Rasil!
Uma parte do povo brasileiro
se mostra rasileiro!

Ultra-radicais sectaristas,
inflexíveis eugenistas.

 para os íntimos (substantivo simplificatório menor),
autoproclamando-se mór!

Sub-répteis draconianos,
caçadores desumanos.
É 1, 10, ou 100% do Brasil?
o cólero Rasil.

Na razão e proporção de um pó,
uma panela autodenominada decente.
Em uníssono esbravejam, da boca a baba mente.
e se acham uns aos outros para nunca raivarem só!

Esquerda/direita, direita/esquerda: pro outro meu casco.
Todos farinha do mesmo asco!
Não se junte com esta gentalha!
Morram corruPTucanalhas!

Razão? Só tem!
Corrupção? Só Rá sem!
Verdade? Só anti- mente!
Capacidade? Só Rá terá mente!

Dente cerrado,
ódio gritado,
Rá quer ser total!
(Um sonho segregacional).

Quem quer uma raspadinha?
Não com meu dinheiro, camaradinha!.


EdiVal
12/11/2014

terça-feira, 4 de novembro de 2014

São Paulo, Não Caia no CICLO HIDRO-ILÓGICO!

Grande e pujante São Paulo:

O fantasma da falta de água assusta neste momento, preocupando cada um dos seus filhos.

Mas uma hora a chuva descerá para molhar abundantemente a terra.

Em algum momento, os reservatórios voltarão a transbordar, e a seca, aparentemente, cessará.

Mas, amada região, não caia na armadilha secular/mundial do “CICLO HIDRO-ILÓGICO”!

(*) Representação do chamado "ciclo hidro-ilógico", de autoria do climatólogo Donald Wihite.

"ciclo hidro-ilógico", baseado nas observações de Wihite em casos de grandes secas, funciona, resumidamente, assim:
  1. Dentro da seca que parece não ter fim, o pânico surge e desespera a todos;
  2. Com a chegada da chuva vem o alívio, e com o tempo uma irracional apatia, e — pasmem —  tanto a população como o Poder Público não se preparam para uma nova seca;
  3. Quando a seca novamente dá as caras, brota de novo o pânico na população, em um círculo vicioso totalmente desprovido de lógica: é o "ciclo hidro-ilógico"!
Enfim, já existem muitas histórias catastróficas construídas por secas de visão mundo afora. Que não construa mais uma por fartura momentânea de água.

Que se faça as mudanças necessárias, se planeje, se realize. Que haja cooperação e respeito à natureza, pois sem ela nada poderá subsistir ao longo dos anos.

Paulistas e paulistanos (e que reverbere no país): cobre veementemente de seus governantes eleitos a adoção de todas as medidas e políticas necessárias para que o desenvolvimento seja sustentável e o futuro de suas crianças seja possível.

A terra das oportunidades não pode arriscar seu futuro (e quem o fizer, carregará um crime do tamanho deste impressionante pedaço do Brasil!).

Então se ligue: mesmo que amanhã de manhã a água transborde, não feche seus olhos para a primordial questão das águas, grande São Paulo!


EdiVal
04 de novembro de 2014.

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Adicional abre-olhos:
As previsões da Ciência são unanimes e desenham um futuro catastrófico para todo planeta, com possíveis secas durando décadas para determinadas regiões devido ao AQUECIMENTO GLOBAL!
Veja mais no artigo :
Assessing the risk of persistent droughtusing climate model simulations and paleoclimate data” (AULT et al, 2014 - Journal of Climate). 


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*Figura obtida no trabalho “Gestão adaptativa para um mundo em mudança – segurança hídrica e gestão de riscos” de Francisco de Assis Filho - UFC.