Vislumbrei, assim, como seria nosso mundo se, de um dia para outro, toda condição ultra-excessiva desaparecesse da face da Terra através da adoção de um paradigma-mor sintetizado na expressão "mundo sem ultra-extremos".
O que aconteceria com nossa sociedade e com o planeta neste mundo novo? Faria muita diferença no curto prazo e ao longo do tempo?
Caracterizarei esta condição, aqui, com o prefixo latino "ultra" – entendendo-o como os radicalismos exacerbados, os extremismos materializados e os fanatismos cegos.
Termos relacionados:
Ultra-sectarismo, ultrafanatismo, ultrafundamentalismo, ultra-intolerância, ultra-intransigência, ultra-radicalismo, ultraconservadorismo, ultramaterialismo, ultrapuritanismo.O excesso.
Sabe-se que, em geral, os exageros – tanto na quantia como no tempo de ação – são perniciosos; o que dizer, então, dos exageros maximizados?![]() |
Ultra-radicalismos trazem miséria, fome, preconceito e violência. |
Minha tese é a de que o mundo se transformaria de uma maneira sem precedentes se, de alguma maneira, todas as instituições e pessoas deste grupo fossem "desempoderadas".
E não seria nada demais, pois o que se considera "excessivamente excessivo" geralmente corresponde à pequenos grupos; estes seriam trazidos para um patamar abaixo da faixa "ultra": por exemplo, de ultra-radical para radical. Os terroristas são um exemplo dos que seriam imediatamente desaparecidos; os ditadores, outro.
Gênese.
Pode-se dizer que no mundo vivemos pulando de um extremo ao outro desde que o homem é "sapiens".Já começa que a vida nasce de extremas e doloridas contrações do corpo da fêmea e da mudança brusca do ambiente do bebê.
Em seguida, somos obrigados a viver em sociedades extremadas e, no fim, morremos em uma condição de debilidade máxima ou dano fatal ao corpo: o derradeiro extremismo existencial.
Viver é uma condição extrema e todo atentado à vida humana é um ultraje.
Nós, humanos.
Os extremos fazem, enfim, parte indissociável da vida humana neste planeta, e com eles temos de aprender a lidar.Muitos não conseguem viver em tais condições e enlouquecem; por natureza, contudo, estamos preparados para lidar com elas.
Será este fato em tudo negativo? Talvez estimule a mudança e a criação e assim nos faça caminhar, não sei...
Até o amor excessivo é negativo, pois sufoca e não deixa crescer.
Fanatismo sem limites.
A liberdade permite adotarmos quaisquer filosofias, mesmo extremistas. Os problema são os "ultras" materializados em atos, seja na forma de ultra-radicalismos, fanatismos exacerbados ou ultra-animosidades; enfim, toda intolerância militada.Neste caldo odioso se encontra a matriz da violência, dos genocídios, das guerras.
Um radical é capaz de, "apenas", desestruturar uma mera possibilidade de conversa sã. Já um ultra-radical deseja, a qualquer custo, fazer prevalecer seu ponto de vista. São mais perigosos e em maior número do que se imagina. Basta a oportunidade e o momento para se revelarem, se acharem uns aos outros e se retro-alimentarem, buscando sempre amealhar novos membros para sua causa. Haja vista os gritos fascistas pedindo a ditadura militar no Brasil pós-eleições: desejam o golpe, instalar sua totalidade, a homogeneidade de seu pensamento.
Exemplo perfeito da dinâmica da ascendência dos movimentos radicais registrados na história ou em plena atividade.
Sistemas político-econômicos I.
Nos últimos séculos vimos nascer o ultracapitalismo, que concentra a renda e mina as oportunidades da maioria esmagadora dos seres humanos.Este, constrói as mega-corporações, que juntas tem um PIB maior que muitos países.
Com eles, se fazem os ultra-ricos que, junto a estas corporações-monstro, possuem os meios e ferramentas para direcionar os caminhos mundiais a seu favor, construindo as condições para a perpetuação de sua condição sem pensar nos estragos que causam à toda sociedade planetária.
É a ultraconcentração de renda, representada por poucos morando no Olimpo: uma minúscula ponta da pirâmide mas que suga o que está na base e produz fome e a miséria.
A maior parte da riqueza mundial é detida por pouco mais de 8% da população global (gráfico da Credit Suísse). |
Sistemas político-econômicos II.
Os radicais da extrema direita são ultranacionalistas, ultraconservadores e elitistas; se consideram em condição especial no mundo como povo e ideologia, se contrapondo ferozmente ao outro (diferente, menor, menos "merecedor"). Se possível, dominariam todos os outros povos "inferiores".Os radicais da extrema-esquerda não ficam longe em potencial destrutivo, desejando ardorosamente estabelecer sua ditadura e sua visão de sociedade, seja por que meio for.
Os dois geraram o fascismo, o nazismo, o terrorismo e os genocídios.
Ainda, às vezes, alguns ultra-extremos se tocam: Na Alemanha nazista, o ultranacionalismo se uniu à segregação racial institucionalizada e à crueldade inominável, e gerou o Holocausto.
Outros "ultras".
Existe a ultra-agressão ao corpo quando se ingere quantidades de alimentos ultracalóricos ou extremamente pobres em nutrientes, deformando-o e minando sua saúde. Atinge boa parte da humanidade.Identicamente, injetamos em nosso templo físico drogas – lícitas ou ilícitas – sabidamente agressivas ao corpo e destruidoras da mente e da capacidade de sentir a vida verdadeiramente. É a ultra-idiotice!
A sociedade sem limites e o Planeta.
Além das citadas considerações econômicas, humanas e sociais, não esqueçamos do nosso único e possível lar, fonte de todo alimento, calor e vida: a Terra.O ultraconsumismo corrói o Planeta e coloca em risco nossa existência. Nossa ultradepredação de todos os recursos iniciou e acelera a sexta extinção em massa da história da vida neste globo!
Será o derradeiro ultra-extremismo existencial compartilhado?
A extinção de uma raça inteira é uma ultramorte?
A utopia da sociedade sem ultra-extremos.
Alguns extremos são compulsórios, como sabemos.Mas a maioria absoluta deles poderíamos evitar, gerando consequências na vida de todos.
Vamos ampliar o pensamento e, num exercício de livre-imaginação, vislumbrar como seria um mundo livre da exacerbação dos excessos?
Façamos apenas um pequeníssimo corte e retiremos uma minúsculo pedaço da ponta da pirâmide, onde mora toda "ultralidade":
- Sem os radicalismos e animosidades excessivos geradores de tendências bélicas, a diplomacia seria mais eficaz do que as guerras e os países não necessitariam de tantos investimentos em segurança e defesa – interna e externa – podendo investir estes recursos na saúde e bem-estar dos povos, na arte, educação e Ciência;
- Desapareceriam os regimes totalitários, os genocídios e as guerras - "ultras" que são;
- Teríamos o Capitalismo disseminado como hoje, mas com o corte do ultracapitalismo desapareceriam os ultra-ricos, haveria maior circulação de riquezas e o consequente desaparecimento da base da pirâmide onde jaz à miséria; seria o fim da fome, aumento da classe média e dos "somente" ricos. Um bilionário produz 1000 milionários;
- Aos poucos, se instalaria uma profunda democracia global, com grande prosperidade para todos, ecumenismo, universalismo e paz duradoura por todo o mundo;
- O exagero de quantidade e da falta absoluta de qualidade dos alimentos, além das drogas destruidoras, seriam evitados, trazendo maior expectativa de vida, maior produtividade no trabalho e alívio nos sistemas públicos de saúde, contribuindo para o desenvolvimento das nações;
- Sem estas pressões e com a prosperidade alcançada, a preservação ambiental seria mais buscada, e o mundo ganharia uma chance.
Considerações finais.
Pode-se afirmar que, mesmo sem tocar diretamente na maioria absoluta dos sistemas de governos, crenças e pessoas, e mantendo a sociedade no curto prazo na forma como a conhecemos, o fim dos ultra-extremos transformaria para sempre a face do mundo, sem romper com o lugar que aprendemos a viver (contudo, melhorado).Se existisse no passado, não teria havido as condições para a ascensão do nazismo, do comunismo ditador e do fascismo; guerra civil espanhola e ditadura militar no Brasil, idem.
Enfim, seria um paradigma norteador de alta eficiência na evitação dos extremos nocivos da humanidade, um mecanismo automantenedor da justiça social. A garantia de um mundo de paz e prosperidade para todos, sem rupturas ou revoluções (no máximo, evoluções).
Uma utopia, enfim...
Por enquanto, façamos nossa parte, vivendo um vida sem excessos maiores do que nós!
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Utopia de um mundo sem "ultralidades". |
EdiVal
16-12-2014
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(Nunca se esquecendo que não se deve ser ultra-extremista nem quanto a esta "filosofia": se alguém tem ideias ultra-extremistas, é um direito dele; desde que não o manifeste em atos e apologias destrutivas).