Neste texto procurarei demonstrar que, após cinquenta anos do golpe militar no Brasil, encontramo-nos, novamente, exatamente em
cima do ponto de partida. Um ciclo de 50 anos em que a permissão dada pela geração
de 64 de que a Democracia fosse encarcerada matou algo muito precioso: a luz
dos povos livres, a estrela-guia da liberdade e a possibilidade da verdadeira
expressão das potencialidades de um povo único.
Nos colocamos, hoje – como se fosse dada uma chance de
redenção – numa encruzilhada em que
determinaremos, novamente, como serão os próximos cinquenta anos: um número
redondo, meio secular e emblemático para um ciclo tão caro na vida de nosso país.
Nunca é demais relembrar: a palavra democracia se origina da contração dos termos gregos demos (povo) + cracia (governo), significando, desta maneira, que o povo detém, em
princípio, poder sobre os poderes legislativo e executivo.
Não à toa, a Constituição do Brasil começa dizendo:
- Art 1º - O Brasil é uma República Federativa, constituída sob o regime representativo, pela união indissolúvel dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
- § 1º - Todo poder emana do povo e em seu nome é exercido.
A democracia garante – mesmo com defeitos de uma criação
humana que é – a liberdade, a diferença de opiniões, distribui os direitos e as
responsabilidades, protege (ou deveria proteger) a todos sem discriminação
perante a lei; se baseia em eleições livres e na possibilidade de contraposição
pacífica de ideias, ideais e modos
de ação.
Viver em uma democracia é – mais do que ter direitos e
deveres – ser ativo na construção e no desenvolvimento da nação.
Para se fazer democracia, necessita-se de um firme espírito conciliador,
libertário e pacífico. A agressão, o ódio e a beligerância são antidemocráticos
a maior.
Um regime não democrático não possui estas diretrizes. Pode-se
citar como exemplos as ditaduras, o totalitarismo, o nacionalismo, o comunismo compulsório e
o fascismo. Todos estes podem ser considerados como antagônicos da Democracia.
Na ditadura o poder reside em apenas uma instância, e não
admite oposição a seus atos e diretrizes. Já nos regimes democráticos o poder é
dividido entre Legislativo, Executivo e o Judiciário.
O Comunismo se configura uma doutrina social que prega o direito
de todos a tudo, mediante, por exemplo, a extinção do direito à propriedade
privada.
Muitos acreditam que o golpe de 64 foi algo necessário, no
sentido de parar o um pretenso perigo comunista.
Contudo isto não é verdade. Não existiam dados fortes e
generalizados da existência deste perigo à época. O presidente João Goulart era
um democrata com desejo de fazer reformas sociais, e apenas isso: um fazendeiro com boas ideias e intenções para as quais o país não estava preparado nem para ouvi-las. Prova disto é
que seu governo sempre obedeceu todos os ritos democráticos.
Nas palavras de Fernando Henrique Cardoso:
Nas palavras de Fernando Henrique Cardoso:
“Jango assustava os proprietários
e a classe média mais tradicional quando prometia reforma agrária e reforma
urbana. Nós estávamos na Guerra Fria, e a tendência era radicalizar”
“Jango nunca foi comunista”.
“Jango nunca foi comunista”.
Estes a quem um governo que pretendia necessárias reformas
sociais assustava, se tratava da elite financeira e preconceituosa do Brasil e, portanto, com
grande influência sobre a nação. Uma forte mobilização destes significava uma
ação avassaladora a que as instituições democráticas brasileiras –que mal
tinham acabado de nascer – não poderiam subsistir.
Uma pena, porque se tivessem resistido, teriam se consolidado, e estaríamos 50 anos à frente como povo e nação!
Aquela geração deveria ter confiado na força da democracia.
Mesmo que supostas "forças comunistas" tentassem crescer – o que os fatos indicam que nunca aconteceria – uma contraposição democrática fortaleceria de um modo inimaginável o espírito republicano do Brasil, e uniria seu povo em torno de uma grande ideia de liberdade e cuidado das coisas democráticas.
Infelizmente, mataram este caminho de crescimento multilateral.
Uma pena, porque se tivessem resistido, teriam se consolidado, e estaríamos 50 anos à frente como povo e nação!
Aquela geração deveria ter confiado na força da democracia.
Mesmo que supostas "forças comunistas" tentassem crescer – o que os fatos indicam que nunca aconteceria – uma contraposição democrática fortaleceria de um modo inimaginável o espírito republicano do Brasil, e uniria seu povo em torno de uma grande ideia de liberdade e cuidado das coisas democráticas.
Infelizmente, mataram este caminho de crescimento multilateral.
Cartazes das manifestações pró-ditadura em suas duas edições (2014 e 1964). |
Vemos que a democracia no Brasil é uma
pequena linha escrita no livro de sua história. Nos seus 514 anos de existência, em apenas 53 deles floresceu uma democracia verdadeira (embora capenga) – menos de 1,5% de sua vida bebendo
de tão límpida fonte! Foram 450 anos de aprendizado ditatorial, escravagista, excludente e de ódio às oposições, ideias contrárias e a qualquer cessão de privilégios.
Como podemos ver, analisando a história do Brasil é possível compreender a existência de tantas ideias e conceitos retrógrados enraizados na alma do brasileiro, que exista tanto ódio entre compatriotas, que as forças de segurança pública ataquem quem deveriam proteger, que se linche pessoas na rua, que se veja exposta – como chaga putrefata – uma polarização odiosa, e que alguns olhem com saudade os regimes violentos cerceadores de liberdades.
Como podemos ver, analisando a história do Brasil é possível compreender a existência de tantas ideias e conceitos retrógrados enraizados na alma do brasileiro, que exista tanto ódio entre compatriotas, que as forças de segurança pública ataquem quem deveriam proteger, que se linche pessoas na rua, que se veja exposta – como chaga putrefata – uma polarização odiosa, e que alguns olhem com saudade os regimes violentos cerceadores de liberdades.
Pode-se afirmar,
simbolicamente, que em 1990 revivemos 1945, e que em 2014, tenta-se reeditar 1964.
Sem um lastro de experimentos democráticos de peso ao longo
de grandes espaços de tempo, as dificuldades de viabilizar a democracia eram
(são?) gigantescas. Imaginemo-nos em 1945: o povo só conhece a ditadura Vargas,
o regime excludente da primeira república e, na memória dos mais velhos, a
monarquia ainda deveria ressoar em sua visão de mundo.
Sem uma experiência anterior de participação política profunda, como seria viver em uma democracia? Em quem votar? Como fazer valer os direitos políticos e civis?
Sem uma experiência anterior de participação política profunda, como seria viver em uma democracia? Em quem votar? Como fazer valer os direitos políticos e civis?
Era como a ingenuidade de um bebê aprendendo a andar com as
próprias pernas!
Estes fatos se refletiram em governos estranhos e inconsistentes, adeptos de
bravatas, além de instituições fracas, sem ideologias e comprometimentos com algo
maior que as pessoas investidas do cargo. Contudo, este era parte indissociável de
um necessário aprendizado (know-how democrático) que, de maneira alguma, poderia ter sido quebrado.
Mas o foi, INFELIZMENTE!
Todo o conhecimento obtido na escola da democracia, no
(curto) período de 1945-1964, se desfizeram sob a truculência da ditadura!
Foi a morte da escola da democracia, mas não só! Foi a morte
do pensamento livre, essencial para uma nação que deseja achar seus próprios caminhos para se desenvolver e encontrar seu lugar no mundo.
Pensemos: porque os regimes ditatoriais matam as pessoas que pensam, exilam suas mentes mais brilhantes, cerceiam a juventude? É óbvio!
E aqui não foi diferente. Este foi um fator de atraso que ainda, 50 anos depois, não nos recuperamos completamente. Como podemos construir uma nação livre e próspera matando as mentes que pensam mais profundamente e também o aprendizado derivado de nossas próprias escolhas?
Pensemos: porque os regimes ditatoriais matam as pessoas que pensam, exilam suas mentes mais brilhantes, cerceiam a juventude? É óbvio!
E aqui não foi diferente. Este foi um fator de atraso que ainda, 50 anos depois, não nos recuperamos completamente. Como podemos construir uma nação livre e próspera matando as mentes que pensam mais profundamente e também o aprendizado derivado de nossas próprias escolhas?
Foram 50 anos roubados da possibilidade plena de olhar para si mesmos enquanto membros de uma sociedade livre, do atrito de ideias que advêm desta condição, da lapidação de cada ser pela necessária negociação e embate de ideais e de visões de seres com mesmo direitos, mas que são diferentes em suas necessidades, desejos e ideias.
Por isso nos debatemos tanto após a ditadura; por este motivo chegamos em 2014 com tantas mazelas expostas. Se a democracia não tivesse sido golpeada, teríamos passado por tudo que estamos passando nas décadas de 60-70, e ao PERSISTIR na grande escola democrática, teríamos nos desenvolvidos de uma maneira INIMAGINÁVEL. Estaríamos, hoje, no rol dos mais desenvolvidos países do mundo livre, como povo e como nação, gozando de nosso "estado de bem-estar social" (Welfare state).
Mas o Brasil e seu povo não podem fugir eternamente de seu destino!
Ao se reiniciar o regime democrático, novamente tivemos nossas experiências de governos difíceis e repletos de problemas. E, mais significativo ainda: toda tentativa de fuga de uma experiência à esquerda e de necessárias reformas sociais se revelaram em vão, pois foi o que vimos acontecer – só que com décadas de atraso, e parcialmente.
Contudo, nunca se conquistou tanto em tão pouco tempo!
Ao se reiniciar o regime democrático, novamente tivemos nossas experiências de governos difíceis e repletos de problemas. E, mais significativo ainda: toda tentativa de fuga de uma experiência à esquerda e de necessárias reformas sociais se revelaram em vão, pois foi o que vimos acontecer – só que com décadas de atraso, e parcialmente.
Contudo, nunca se conquistou tanto em tão pouco tempo!
Seguindo na cronologia dos fatos, a reedição da história se completa no surgimento, novamente,
de forças antidemocráticas, sectaristas e excludentes, levantadas por aquela mesma classe de pessoas que estão sentindo os ventos de mudanças que trazem para
perto os miseráveis, tão úteis em um sistema de alta concentração de riquezas.
Novamente, se ataca um governo eleito democraticamente e que satisfaz todos os ritos do stabilichment democrático por não concordância com sua linha, mas que, principalmente, tem ideias que foram vencedoras nas urnas.
Esta é a verdade incontestável, seja qual for o grito dado:
Novamente, se ataca um governo eleito democraticamente e que satisfaz todos os ritos do stabilichment democrático por não concordância com sua linha, mas que, principalmente, tem ideias que foram vencedoras nas urnas.
Esta é a verdade incontestável, seja qual for o grito dado:
A URNA DECIDIU – E ELA É SAGRADA!
Outro ponto relevante e objetivo mas que, paradoxalmente, não
se mostra claro para a maioria dos povos, é que o comunismo ditatorial definha, falido e
moribundo. O que se vê no mundo atual são cadáveres ambulantes de um ente que não deu certo, só esperando o tempo necessário para ser enterrado para
sempre.
E clamam por ele, revivem-no para incutir medo nas mentes desinformadas.
E clamam por ele, revivem-no para incutir medo nas mentes desinformadas.
Mas não estão mortos, absolutamente e ao contrário, a Ditadura, o Fascismo, o Totalitarismo. Só olhar as
ruas, o mundo e as redes sociais e se enxergará o verdadeiro “inimigo”, e é preciso
acordar para esta realidade!
Deste modo, os que atacam a democracia e apoiam a Ditadura se alinham e equivalem aos alardeados comunistas totalitários da
época da guerra fria que tanto odeiam, e devem ser rechaçados (pacifica e democraticamente sempre)!
Não existem argumentos aceitáveis para os que cerceiam a democracia e a liberdade, aos que não desejam, injusta, egoística e desumanamente, perder ou partilhar privilégios: tudo para si e seus iguais, nada para os outros parece ser o lema.
Isto não é democracia, é a ditadura da exclusão social, da desigualdade e da concentração de poder sem limites.
Não existem argumentos aceitáveis para os que cerceiam a democracia e a liberdade, aos que não desejam, injusta, egoística e desumanamente, perder ou partilhar privilégios: tudo para si e seus iguais, nada para os outros parece ser o lema.
Isto não é democracia, é a ditadura da exclusão social, da desigualdade e da concentração de poder sem limites.
Independente dos desejos de qualquer movimento e classes, a Democracia não pode ser atropelada. Seja dolorido ou não este caminho, o aprendizado democrático é imprescindível!
Trilhemos a Democracia caminhando pela
estrada da liberdade e da soberania!
Vivamos plenamente o rito, as dores e as delícias de vivermos em uma grande e rica Nação democrática.
Não existem atalhos para a Democracia!
"A intolerância é em si uma forma de violência e um obstáculo ao desenvolvimento do verdadeiro espírito democrático" (Mahatma Gandhi)
EdiVal
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